Depois de perceber o quão emocionalmente indisponível eu sou e me deparar com a solidão que isso me oferece, tive um insight engraçado. No meu último texto, narrei as mudanças de status do meu perfil do tinder no último mês. Fui de "Ainda não sei" para "Nada sério, mas depende", depois para "Algo sério, mas vamos ver" e terminei em "Algo casual". Relendo esse percurso depois de alguns dias, agora sem tanta emoção envolvida, notei que rolou uma quebra de expectativa significativa. Eu estava num gradiente de abertura emocional, e, de repente... só voltei pra trás. Por que?
Além disso, enquanto escrevia, não percebi esse recuo como um obstáculo, mas como a única saída que eu tinha naquele momento. Quando estou dentro de uma situação gatilho, essa situação me cega e o caminho mais absurdo parece o único caminho. A Bia vem ao front.
O meu relacionamento com o Iuri só foi possível porque era eu quem conduzia as interações entre nós dois e fazia as demonstrações de amor necessárias. Se assim não fosse no começo, eu jamais conseguiria suportar entrar em um compromisso. Saber que alguém podia se interessar por mim era assustador. Me deixava com vergonha e sem reação, e assim eu só podia fugir. Mas depois que eu já me sentia mais segura, percebi que o que eu mais queria era que o Iuri se interessasse por mim. Que agora que eu tinha entregue todo o meu amor, eu gostaria de receber também. Mas isso não aconteceu. Por muitos motivos complexos que aqui não cabem.
Perceber que eu fiz todo um movimento para tornar possível minha entrada em um relacionamento e que isso não tinha nada a ver com o movimento do outro de me dar amor ou não foi devastador. Mudou a minha posição: de tentar construir um espaço em que, na minha cabeça, eu poderia ser amada eu fui para a percepção de que toda essa construção era uma resistência da minha parte em experimentar o amor. Assim como um paciente que fala sem se ouvir para preencher o espaço da sessão, numa tentativa de suprir a angústia do aparecimento do inconsciente, eu construí uma persona para, ilusoriamente, me permitir experimentar o amor.
Mas o amor é dar aquilo que não se tem. Não tem nada a ver com os movimentos que eu fazia. Freud diz, em algum momento, que o analista usa a mesma técnica de um escultor: "per via de levare". Um escultor retira partes da obra prima que usa, para modelá-la. O analista, do mesmo modo, retira esse preenchimento em excesso do analisando. Questiona o modo "per via de porre".
Antes de começar a namorar o Iuri, eu saia com um cara que vou chamar de B. Uma das primeiras coisas que B. me disse quando saímos foi que nunca tinha namorado muito tempo. Lembro que a gente conversou sobre isso e eu cheguei a verbalizar que não entendia o porque, já que ele era uma pessoa muito legal. Entre outros motivos que não me lembro bem, nos afastamos porque ele me assustou por ser legal demais. Também porque logo comecei a namorar o Iuri.
Depois do meu término, voltamos a nos encontrar. Curiosamente, em um primeiro momento, eu não me lembrava de quase nada dos nossos encontros, mas, na medida que fomos conversando, as memórias foram voltando à minha mente. Eu fiquei bastante surpresa com algumas imagens que me vieram. B. me acompanhou no FIT de 2022, o evento que eu mais gosto na minha cidade e que na maioria das vezes, frequento sozinha. Por algum motivo, eu chamei ele pra ir comigo e ele foi. Ele também me deu uma bandeja de doce árabe, meu doce favorito. Eu sempre falo pra todo mundo o quanto gosto desse doce, mas só a minha mãe tinha me dado. E tiveram outras coisas que eu também recalquei.
Quando B. me assustou, eu tive uma crise de paranóia muito doida que durou, pelo menos, umas três semanas. Ele ficou do meu lado o tempo todo, hipotetizando soluções pra um problema que nem existia. Logo depois, eu comecei a namorar.
Nos encontramos duas vezes. A primeira eu não entendi nada: eu tava adorando o rolê e ele inventou uma desculpa (ou não?) e saiu as pressas. Mas me levou em um beco legal, o que me fez lembrar que dois anos atrás a gente não sabia de nenhum beco bom e agora ele sabia de um.
A segunda vez foi surpreendente. Não vou escrever detalhes porque quero que sejam só meus. Mas foi exatamente o que eu precisava. B. me entregou em uma tarde o que o meu ex-namorado não conseguiu entregar em 2 anos de relacionamento. Ele me deu presença. Não sei muito bem se presença tem a ver com afeto, mas eu me senti na mesma frequência que ele e isso explodiu a minha cabeça. Eu nunca tinha me sentido assim.
B. ficou monossilábico e dias depois sumiu. Não conversamos mais desde então.
Tudo bem.
Ter a oportunidade de me encontrar assim com B. me fez perceber que eu quero muito estar emocionalmente disponível quando encontrar alguém emocionalmente disponivel. Pra eu conseguir ver a beleza das pequenas coisas que eu não vi com B. logo de cara, e não me assustar.
O que eu mais quero é poder mostrar minha história pra alguém que queira ver. Então, se é isso que eu quero, eu devo ser uma pessoa emocionalmente disponível.
Nesse ano, 2025, temos três palavras. A primeira é reparar. Reparar pode ter dois sentidos: perceber e consertar. Acho que o primeiro movimento interior que eu tenho que fazer em mim em busca dessa disponibilidade emocional é perceber meus recuos, como eu fiz hoje, relendo meu texto. E junto desse movimento de auto percepção, devo buscar outras direções para meus pensamentos que agem como obstáculo, que querem me puxar para o ciclo e ensimesmamento.
A segunda é sustentar. Sustentar a opção pela honestidade. Pelo processo "per via de levare", que vai me desmontar e reposicionar. Sustentar a rejeição ou o amor. Sustentar ser vista. Sustentar a responsabilidade de ser eu mesma e poder escolher como pensar, sentir, agir, ser e não poder controlar tudo isso no outro.
Por fim, investir. Procurar entender quando investir e quando não. Em que investir. Em quem investir. O que merece minha energia? Quem merece minha história?
Metas para 2025
Pessoal
Exercitar virtudes;
Escolher melhor para quem entregar meu sagrado;
Identificar, comunicar e respeitar meus limites;
Ser menos "carismática" e mais "autêntica";
Ter responsabilidade emocional com as outras pessoas;
Ser mais receptiva à frustrações;
Furar narcisismo de "ser a melhor" e sentimento de superioridade;
Trabalhar a falta como algo que move o desejo e não como angústia;
Descobrir mais sobre mim - meus interesses, estilo, concepções de mundo (*estrelinha para o posicionamento político);
Lembrar que posso aprender;
Ser mais adulta - me responsabilizar pela minha vida e não culpabilizar os outros; resolver meus próprios problemas.
Social
Ter mais tempo de qualidade com a minha família;
Cultivar minhas amizades próximas;
Ter o máximo de experiências amorosas que eu puder até encontrar uma pessoa que queria compartilhar a vida comigo;
Comemorar datas significativas durante o ano, criando tradições (mesmo que solitária);
Fazer minha própria festa de final de ano;
Ir na parada LGBTQIA+ e me orgulhar.
Espiritual
Me dedicar aos ministérios que sou líder (Santa Cecília e Pastorinhos);
Pastorear ovelhas que Jesus me confiar;
Seguir com o Terço do Instituto Zoé e orar intencionalmente para direcionamentos sobre o projeto;
Fazer acampamento Sênior;
Retomar 5 pedrinhas: missa diária, terço diário, estudo bíblico diário, jejum semanal e confissão mensal.
Saúde
Fazer um exercício físico, esporte ou academia (dança / skate / luta / natação / qualquer coisa);
Comer mais saudável (tentar ter pelo menos bons café da manhã e almoço todos os dias).
Lazer
Participar com mais frequência de atividades culturais: cinema, teatro, palestras, shows;
Usar menos redes sociais;
Ler pelo menos um livro de ficção por mês;
Planejar viagens: São Paulo (julho) & Argentina (janeiro);
Aprender a costurar.
Financeiro
Organizar com clareza o dinheiro que entra e que sai;
Financiar uma moto;
Estudos
Conciliar melhor faculdade e trabalho;
Estudar para a prova de mestrado;
Continuar com GEPUL e propor grupo de estudos de Literatura em Espanhol;
Dedicar tempo para o projeto do Instituto Zoé;
Não perder de vista: pós na ESPE, aulas de tradução no ibilce e prova DELE.
Trabalho
Ter postura equilibrada e constante na escola;
Ser mais criativa, me desafiar a me reinventar e replanejar;
Reconhecer meu esforço;
Aproveitar o encontro diário com meus alunos e pacientes;
Ter mais pacientes;
Ter um olhar transformador na minha realidade, não me deixar abalar por questões desanimadoras que são estruturais da educação;
Trabalhar com tradução freelancer;
Ampliar meu público de música em casamento;
Não perder de vista o interesse em trabalhar: com latim; como formadora SESI; no SENAC ou no SESC.