quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Metas para 2025

Depois de perceber o quão emocionalmente indisponível eu sou e me deparar com a solidão que isso me oferece, tive um insight engraçado. No meu último texto, narrei as mudanças de status do meu perfil do tinder no último mês. Fui de "Ainda não sei" para "Nada sério, mas depende", depois para "Algo sério, mas vamos ver" e terminei em "Algo casual". Relendo esse percurso depois de alguns dias, agora sem tanta emoção envolvida, notei que rolou uma quebra de expectativa significativa. Eu estava num gradiente de abertura emocional, e, de repente... só voltei pra trás. Por que? 

Além disso, enquanto escrevia, não percebi esse recuo como um obstáculo, mas como a única saída que eu tinha naquele momento. Quando estou dentro de uma situação gatilho, essa situação me cega e o caminho mais absurdo parece o único caminho. A Bia vem ao front. 

O meu relacionamento com o Iuri só foi possível porque era eu quem conduzia as interações entre nós dois e fazia as demonstrações de amor necessárias. Se assim não fosse no começo, eu jamais conseguiria suportar entrar em um compromisso. Saber que alguém podia se interessar por mim era assustador. Me deixava com vergonha e sem reação, e assim eu só podia fugir. Mas depois que eu já me sentia mais segura, percebi que o que eu mais queria era que o Iuri se interessasse por mim. Que agora que eu tinha entregue todo o meu amor, eu gostaria de receber também. Mas isso não aconteceu. Por muitos motivos complexos que aqui não cabem. 

Perceber que eu fiz todo um movimento para tornar possível minha entrada em um relacionamento e que isso não tinha nada a ver com o movimento do outro de me dar amor ou não foi devastador. Mudou a minha posição: de tentar construir um espaço em que, na minha cabeça, eu poderia ser amada eu fui para a percepção de que toda essa construção era uma resistência da minha parte em experimentar o amor. Assim como um paciente que fala sem se ouvir para preencher o espaço da sessão, numa tentativa de suprir a angústia do aparecimento do inconsciente, eu construí uma persona para, ilusoriamente, me permitir experimentar o amor. 

Mas o amor é dar aquilo que não se tem. Não tem nada a ver com os movimentos que eu fazia. Freud diz, em algum momento, que o analista usa a mesma técnica de um escultor: "per via de levare". Um escultor retira partes da obra prima que usa, para modelá-la. O analista, do mesmo modo, retira esse preenchimento em excesso do analisando. Questiona o modo "per via de porre". 

Antes de começar a namorar o Iuri, eu saia com um cara que vou chamar de B. Uma das primeiras coisas que B. me disse quando saímos foi que nunca tinha namorado muito tempo. Lembro que a gente conversou sobre isso e eu cheguei a verbalizar que não entendia o porque, já que ele era uma pessoa muito legal. Entre outros motivos que não me lembro bem, nos afastamos porque ele me assustou por ser legal demais. Também porque logo comecei a namorar o Iuri. 

Depois do meu término, voltamos a nos encontrar. Curiosamente, em um primeiro momento, eu não me lembrava de quase nada dos nossos encontros, mas, na medida que fomos conversando, as memórias foram voltando à minha mente. Eu fiquei bastante surpresa com algumas imagens que me vieram. B. me acompanhou no FIT de 2022, o evento que eu mais gosto na minha cidade e que na maioria das vezes, frequento sozinha. Por algum motivo, eu chamei ele pra ir comigo e ele foi. Ele também me deu uma bandeja de doce árabe, meu doce favorito. Eu sempre falo pra todo mundo o quanto gosto desse doce, mas só a minha mãe tinha me dado. E tiveram outras coisas que eu também recalquei. 

Quando B. me assustou, eu tive uma crise de paranóia muito doida que durou, pelo menos, umas três semanas. Ele ficou do meu lado o tempo todo, hipotetizando soluções pra um problema que nem existia. Logo depois, eu comecei a namorar. 

Nos encontramos duas vezes. A primeira eu não entendi nada: eu tava adorando o rolê e ele inventou uma desculpa (ou não?) e saiu as pressas. Mas me levou em um beco legal, o que me fez lembrar que dois anos atrás a gente não sabia de nenhum beco bom e agora ele sabia de um. 

A segunda vez foi surpreendente. Não vou escrever detalhes porque quero que sejam só meus. Mas foi exatamente o que eu precisava. B. me entregou em uma tarde o que o meu ex-namorado não conseguiu entregar em 2 anos de relacionamento. Ele me deu presença. Não sei muito bem se presença tem a ver com afeto, mas eu me senti na mesma frequência que ele e isso explodiu a minha cabeça. Eu nunca tinha me sentido assim. 

B. ficou monossilábico e dias depois sumiu. Não conversamos mais desde então. 

Tudo bem. 

Ter a oportunidade de me encontrar assim com B. me fez perceber que eu quero muito estar emocionalmente disponível quando encontrar alguém emocionalmente disponivel. Pra eu conseguir ver a beleza das pequenas coisas que eu não vi com B. logo de cara, e não me assustar. 

O que eu mais quero é poder mostrar minha história pra alguém que queira ver. Então, se é isso que eu quero, eu devo ser uma pessoa emocionalmente disponível.

Nesse ano, 2025, temos três palavras. A primeira é reparar. Reparar pode ter dois sentidos: perceber e consertar. Acho que o primeiro movimento interior que eu tenho que fazer em mim em busca dessa disponibilidade emocional é perceber meus recuos, como eu fiz hoje, relendo meu texto. E junto desse movimento de auto percepção, devo buscar outras direções para meus pensamentos que agem como obstáculo, que querem me puxar para o ciclo e ensimesmamento. 

A segunda é sustentar. Sustentar a opção pela honestidade. Pelo processo "per via de levare", que vai me desmontar e reposicionar. Sustentar a rejeição ou o amor. Sustentar ser vista. Sustentar a responsabilidade de ser eu mesma e poder escolher como pensar, sentir, agir, ser e não poder controlar tudo isso no outro. 

Por fim, investir.  Procurar entender quando investir e quando não. Em que investir. Em quem investir. O que merece minha energia? Quem merece minha história? 


Metas para 2025 


Pessoal 

Exercitar virtudes;

Escolher melhor para quem entregar meu sagrado; 

Identificar, comunicar e respeitar meus limites;

Ser menos "carismática" e mais "autêntica";

Ter responsabilidade emocional com as outras pessoas; 

Ser mais receptiva à frustrações; 

Furar narcisismo de "ser a melhor" e sentimento de superioridade; 

Trabalhar a falta como algo que move o desejo e não como angústia; 

Descobrir mais sobre mim - meus interesses, estilo, concepções de mundo (*estrelinha para o posicionamento político);

Lembrar que posso aprender; 

Ser mais adulta - me responsabilizar pela minha vida e não culpabilizar os outros; resolver meus próprios problemas. 


Social 

Ter mais tempo de qualidade com a minha família; 

Cultivar minhas amizades próximas; 

Ter o máximo de experiências amorosas que eu puder até encontrar uma pessoa que queria compartilhar a vida comigo;

Comemorar datas significativas durante o ano, criando tradições (mesmo que solitária); 

Fazer minha própria festa de final de ano; 

Ir na parada LGBTQIA+ e me orgulhar. 


Espiritual

Me dedicar aos ministérios que sou líder (Santa Cecília e Pastorinhos); 

Pastorear ovelhas que Jesus me confiar; 

Seguir com o Terço do Instituto Zoé e orar intencionalmente para direcionamentos sobre o projeto;

Fazer acampamento Sênior; 

Retomar 5 pedrinhas: missa diária, terço diário, estudo bíblico diário, jejum semanal e confissão mensal.


Saúde 

Fazer um exercício físico, esporte ou academia (dança / skate / luta / natação / qualquer coisa); 

Comer mais saudável (tentar ter pelo menos bons café da manhã e almoço todos os dias). 


Lazer 

Participar com mais frequência de atividades culturais: cinema, teatro, palestras, shows; 

Usar menos redes sociais;

Ler pelo menos um livro de ficção por mês; 

Planejar viagens: São Paulo (julho) & Argentina (janeiro);

Aprender a costurar.


Financeiro 

Organizar com clareza o dinheiro que entra e que sai; 

Financiar uma moto;


Estudos

Conciliar melhor faculdade e trabalho; 

Estudar para a prova de mestrado; 

Continuar com GEPUL e propor grupo de estudos de Literatura em Espanhol;

Dedicar tempo para o projeto do Instituto Zoé; 

Não perder de vista: pós na ESPE, aulas de tradução no ibilce e prova DELE.  


Trabalho

Ter postura equilibrada e constante na escola; 

Ser mais criativa, me desafiar a me reinventar e replanejar; 

Reconhecer meu esforço; 

Aproveitar o encontro diário com meus alunos e pacientes;

Ter mais pacientes; 

Ter um olhar transformador na minha realidade, não me deixar abalar por questões desanimadoras que são estruturais da educação; 

Trabalhar com tradução freelancer;

Ampliar meu público de música em casamento; 

Não perder de vista o interesse em trabalhar: com latim; como formadora SESI; no SENAC ou no SESC. 

sábado, 2 de novembro de 2024

Tempo de ver

Na minha última sessão de análise, percebi que sou a única pessoa que vê minha história pessoal por inteiro, de modo linear. Não estou deixando de lado as falhas da memória ou as impressões subjetivas de mundo que todos temos (e com as quais trabalho a partir da psicanálise), mas notei que sou a única pessoa que pode acessar, caso queira, de modo diteto, minha história inteira, porque, afinal, foi eu quem vivi. Outra pessoa só pode acessar se eu escolher compartilhar com ela. E se ela escolher saber. 


Perceber isso me fez sentir uma profunda solidão. 


Antigamente eu costumava me sentir segura com essa solidão, quando eu era a única a saber algo sobre mim. Parecia que só assim eu podia existir da minha forma mais crua. Eu tinha medo que me vissem e acho que isso me fazia emocionalmente indisponível. 


Mesmo assim, entendo agora que, no fundo, eu sempre quis que alguém me visse. Pelo menos em parte. E que, pouco a pouco, fosse aprendendo cada vez mais a ver. 

Mas entre alguém me ver e ir embora e ninguém nunca me ver, eu prefiro não me mostrar pra ninguém. 


Talvez seja por isso que pessoas arrogantes me atraem tanto. 


Ou pessoas também emocionalmente indisponíveis. 


Tentei me mostrar no meu último relacionamento, mas não houve interesse por parte do meu ex namorado de me ver. Também não há interesse dos meus pais em me ver. Não há interesse de ninguém em me ver. 


Saber disso me fez chorar. 


Também gostaria de ver alguém, mas as pessoas não querem se mostrar. As que querem, só estão buscando plateia, não conexão. 


Faço análise há 11 anos e, pode ser que, pra algumas pessoas, eu não tenha crescido nada. Mas isso é porque elas não se dão ao trabalho de me ver. Eu vejo o quanto eu cresci. 


Percebo, enquanto escrevo aqui no mercado esperando a minha senha do açougue ser chamada, que eu não deveria mais me mostrar. 

Entrei no tinder de novo, recentemente. Fui de "Ainda não sei" pra "Nada serio, mas depende". Depois pra "Algo sério, mas vamos ver". E agora, finalmente, pra só "Algo casual". 








quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Alguém (A lista atualizada)

Tome a iniciativa

Esteja comigo porque quer, que eu não precise mendigar amor

Que eu seja a prioridade

Nunca canse de demonstrar o seu amor e de me amar 

Fique do meu lado quando as coisas forem difíceis 

Goste de mim pelo que eu sou, não pela ideia que tem de mim

Com quem eu possa conversar sobre tudo e não acabe o assunto 

Empolgado comigo, com a nossa relação, com o mundo 

Leve, que seja maleável com coisas que eu não sou e paciente pra me acolher

Engraçadinho 

Saiba me alcançar e seja cauteloso com meus gatilhos 

Respeite meu espaço mas saiba quando me invadir

Eu admire genuinamente

Tímido, mas que não seja tchongo mongo

Não seja racional demais 

Com quem eu consiga desfrutar de silêncio confortável

Me acompanhe nos meus compromissos e me inclua nos próprios, que aprecie minha companhia 

Goste de bicho 

Me poupe de estresse, que resolva certos b.o.s antes de chegarem em mim 

Beijo lento 

Goste de dormir de conchinha 

Que tenha moto 

Responsável e trabalhador 

Justo 

Honesto 

Cacheado

Por amor às causas perdidas

Saber, em espanhol, não tem apenas o sentido de conhecer sobre algo. Também pode significar saborear, sentir o gosto. Esse sentido não tem uma tradução exata, é uma construção própria da língua espanhola. Há algumas semanas, eu li um poema de Marina Romero, uma poetisa do contexto do exílio espanhol. A guerra tirou dela o sabor do beijo de alguém que amava.  Como eu não sabia esse outro significado do verbo saber, não pude saborear o poema de primeira. 



Às vezes eu tenho essa coisa de não saber saborear as coisas de primeira. As vezes elas passam por mim e eu nem me dou conta do quanto são importantes até que eu tenha perdido a chance de saboreá-las. Às vezes eu trato alguém com vários significados como se só tivesse um. E perco os significados que mais me alcançariam (e eu nem tô falando sobre significados que deslizam). Significados que mexem com meus sentidos: a visão, a audição, o olfato, o tato... e o paladar.  Quando eu entendi do que a poeta falava, eu pensei: que sabores minhas guerras tiraram de mim? Mas agora entendo que a pergunta é diferente da pergunta da Marina: que sabores eu nunca senti e gostaria? Às vezes eu perco a chance de saborear. 

Eu me lembro de quando meu namorado, agora ex, começou a trabalhar como mediador de artes no SESC. Ele quis que eu fosse a primeira pessoa pra quem ele mediaria. Eu achei que essa seria a coisa mais especial que eu poderia receber dele naquele momento, pois gosto de me sentir a primeira. A única, na verdade. Mas não foi. Como todas as outras que já visitei, a exposição tinha vários setores, cada um sobre uma obra e um artista. Ocupavam pouco espaço, e as explicações eram curtas. Estávamos envergonhados por aquela empreitada: ele se mostrando e eu o aplaudindo. Mesmo assim, conforme o Iuri me contava sobre algo que ele tinha aprendido, eu percebia que ouvir aquelas palavras não era me apropriar de um saber, mas abrir uma porta. Tipo no Monstros S.A. Cada setor da exposição era uma porta para um universo e eu ainda estava do lado de fora. 

Quantas portas eu não abri? Agora eu entendo que me acostumei a te olhar como uma porta fechada. Eu sinto tanto medo de abrir que chego a desejar que o ápice do meu encontro com você seja uma porta fechada, compondo uma pequena sessão na exposição da minha vida. E se sua porta for tão legal que eu não vou mais conseguir fechar mais ela? E se eu te beijar e eu sentir o sabor do sal, da água, do rio, das cores, do amor...

Esse lugar pequeno serve pra me proteger. Sabe? Estou sempre me relacionando com pessoas emocionalmente indisponíveis. E quando algo dessas relações encaixa, é com a porta fechada. A porta fechada é requesito para um relacionamento ser possível para mim. Não só a sua, mas a minha. Eu tenho tanto medo... E daí, quando me sinto segura pra abrir... não posso, pois significa alterar a dinâmica. 

Das poucas vezes que a porta não está mais fechada, não acontece da primeira vez. Primeiro eu sei e depois, se há um depois, eu saboreio. A impressão que eu tenho é que é preciso tempo. Tempo pra saber se há coragem o bastante de alguém para suportar essa abertura. Suportar essa abertura - amo as palavras que saem nesse texto. 

Com meu avô a porta estava sempre aberta. Pro mundo. Pra vida. Pras cores e sabores. Sutilmente, cotidianamente, ele abria a porta para mim. Todos os dias ele abria. A dele, a minha. Ele não cansava de abrir quando eu fechava. 

Como viver em um mundo sem você, vô? 

Como encontrar isso em alguém de novo? Agora só restou um buraco. 

Eu não tenho mais alguém no mundo cuja a porta está aberta pra mim... e queria isso agora. Eu queria isso com outra pessoa além de você. Uma pessoa que não fosse da família, que de preferência eu pudesse beijar. Mas eu sei não é possível, demanda tempo, energia, desejo. Demanda comer, rezar e amar. Demanda, demanda, demanda. Eu não sei fechar sua porta. Eu não quero fechar sua porta. 

Queria tanto conseguir abrir a porta pra alguém sem tantos rodeios. Queria tanto acessar a porta de alguém sem tantos medos. Sabendo dos riscos e belezas da exposição. Os riscos e belezas de trocar a posição velha por outra, numa ex-posição. 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Metas para 2024

Em 2023 meu maior aprendizado foi manejar a minha angústia de não saber. Descobri, com muito custo, que o que eu pensava saber sobre mim, era só o que eu aceitava que os outros diziam que eu era. Quer dizer, ousei olhar pra isso. 

Se a gente foge muito tempo de olhar pra algo que parece ser a causa da nossa paralisação, provavelmente é porque a gente acha que esse é um caminho sem saída. Eu tinha medo de olhar e entender que minha hipótese estava certa, que eu não tinha nada meu. E então seria o fim. O que eu seria se não tudo o que tinha sido até hoje? O que eu faria com esse gigantesco NADA?

Mas foi justamente assumir o tudo que era do outro, e o nada que era meu, que me fez entender que, algumas coisas que eram do outro em mim também eram minhas. Eu não gosto de ser psicóloga. Mas eu não sou. Eu sou psicanalista. Eu não gosto de ter a mesma profissão que a minha mãe tem, de sentir que vou me afundar nas demandas da profissão como ela e diversos outros profissionais fazem. Mas meu futuro não está escrito assim. Apesar de circunstâncias muito difíceis, eu não estou a mercê das circunstâncias. Minha vocação é aquilo que eu faço com as circunstâncias. E quando penso em profissão, eu me vejo, também, sendo professora. 

Percebi que preciso fazer o básico bem feito. Fazer o que precisa ser feito, ainda que doa. Respeitar meus limites, respeitar os limites dos outros.

A palavra de 2024 é SABEDORIA. É interessante que Deus tenha suscitado essa palavra, porque ela me lembra da minha infância, quando meu avô me contava histórias sobre o Rei Salomão e essa minha relação com esse personagem é de muita intimidade, carinho, conforto. Tudo o que eu tenho dificuldade de sentir no meu cotidiano para retomar uma autenticidade que em mim brilhou um dia.

Dentre todos os pedidos que o Rei Salomão podia fazer para Deus, ele pediu para ser um rei sábio. Essa sabedoria que ele recebeu, direcionou toda uma nação. A história das duas mães, que me é tão preciosa, me mostra que ter sabedoria parte da habilidade de observar, ouvir e constatar o tom dos contextos e situações, uma dificuldade enorme que tenho, para a partir disso agir. Não posso me esquecer de que uma pequena borboleta muda o tom de um ambiente. E eu sou uma borboleta.

Metas para 2024

Pessoal 

Trabalhar vícios (comida, carência);

Não entregar minhas ideias de bandeja para as pessoas;

Ouvir mais do que falar; 

Ouvir mais os outros sem ultrapassar meus limites; 

Escolher minhas lutas e projetos (em todos os aspectos, inclusive com pessoas);

Respeitar limites das pessoas; 

Ser mais receptiva à frustrações/rejeições/negativas;

Desconstruir preconceitos como ideia de estar "sempre à frente";

Descobrir meu estilo, gostos pessoais, interesses;

Entender meu posicionamento político e perspectiva de mundo;

Estar mais disposta a gastar tempo com as coisas, lembrar que posso sempre aprender


Social 

Ter mais tempo de qualidade com a minha família;

Manter maior contato com amizades que eu quero cultivar (Gus; Alice e Amanda Madi; Vitória Mattos, Bia Fer, Gi Pet, Lara e Diogo);

Cultivar meu namoro;

Fazer festas de fim de ano por conta própria em casa;

Ir na parada LGBTQIA+ e me orgulhar.


Espiritual 

Me dedicar aos ministérios que sou líder;

Fazer acampamento sênior; 

Retomar 5 pedrinhas: missa, terço, estudo bíblico, jejum e confissão 


Saúde 

Fazer um exercício físico, esporte ou academia;

Comer mais saudável.


Lazer 

Participar mais de oportunidades culturais: cinema, teatro, palestras, shows, etc. 

Ler pelo menos 1 livro que não seja relacionado à trabalho por mês.

Planejar viagens: uma para o Uruguai; uma sozinha; uma com minhas amigas; uma com o Iuri

Aprender a fazer crochê 


Financeiro

Economizar para viajar e financiar uma casa;

Terminar de mobiliar predinho;

Comprar uma moto; 


Estudos

Conciliar faculdade e trabalho;

Me dedicar à pesquisa como prioridade;

Falar menos em sala de aula, não atrapalhar meus colegas com meus pensamentos e posicionamentos;

Ser professora de espanhol no centro de línguas do Ibilce;

Seguir com análise, supervisão e grupo de estudos; 

Dedicar tempo para o projeto Instituto Zoe

Não perder de vista: mestrado; pós em psicanálise; escrever 


Trabalho

Ter postura no novo ambiente de trabalho; 

Ser mais paciente; 

Continuar prestando concursos públicos;

Ser dedicada ao que propuser a fazer; 

Reclamar menos, transformar mais;

Não fazer fofoca.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Metas para 2023

 "Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. 

Onde houver ódio, que eu leve o amor

Onde houver ofensa que eu leve o perdão;

Onde houver discórdia, que eu leve a união; 

Onde houver dúvida, que eu leve a fé; 

Onde houver erro que eu leve a verdade; 

Onde houver desespero, que eu leve a esperança; 

Onde houver tristeza que eu leve a alegria; 

Onde houver trevas, que eu leve a luz. 


óh mestre, 

fazei que eu procure mais: 

consolar, que ser consolado; 

compreender, que ser compreendido; 

amar que ser amado

pois é dando, que se recebe, 

é perdoando que se é perdoado,

e é morrendo que se vive para a vida eterna."

Oração de São Francisco de Assis


    Não sei se dei algum passo em direção à palavra entrega, palavra de 2022, mas eu tentei dar. Eu acho que tentar tanto, me fez perceber que meus conflitos em relação à ela já não existem mais. Inclusive aquele documentário que ganhou um óscar da netflix, que envolve um polvo e um cara deprimido me ajudou muito a metaforizar e internalizar minhas questões com entrega. Entregar definitivamente não significa conseguir viver tudo o que eu gostaria, isso é mais se iludir, rs. Entregar é aceitar que, ainda que eu dê tudo o que posso, pode não ser 100% do meu potencial de entrega em outro contexto ou circunstância. Mas que, por ser o meu melhor, é o suficiente. Mesmo quando não é. Me entregar também não é mais um fardo. Ou um evento super especial. É o que é necessário pra crescer e amadurecer. Então eu me entrego. 

    Eu finalmente me resolvi com a questão das escolhas. Eu entendi o que era o "deixar o nada vir à tona". A fragmentação, o trabalho em excesso, crenças de fracasso, procrastinação, espaços bagunçados e mal delimitados, tempos idealizados e sempre cheios e eu sempre atrasada... e um ódio. Um ódio tão forte, e tão impactante, e tão avassalador, e tão grotesco. Todos significantes de um grande Outro chamado sistema capitalista para o qual eu tinha entregue minha alma desde criança, sem consciência. O tudo era esse Outro que eu achava que era Eu. Mas as vozes de fora se calaram, as ondas de dentro se amansaram. E não sobrou nada. Só meu eu esvaziado, esvaziado de significantes, cheio de lacunas e o meu primitivismo, o que é claro e o que é cru. E nesses espaços vazios, onde podem passar muitas coisas, encontrei aquelas que são simples e, de tão simples, difíceis. 

    O amor é tão potente quanto o ódio, disse minha analista. O amor é composto de pequenos surtos, como o de Ana, no conto "amor", de Clarisse Lispector, disse minha analista (e o meu professor de Narrativa Brasileira I, mas eu ainda estou tentando me acostumar com a demora das fichas caindo, que eu acho que em breve também será passado, já que minhas estruturas psíquicas parecem finalmente estar dando indícios de que sairão da fase de latência). Eu estou sustentando a nossa relação, disse a minha analista. O amor sustenta relações. Ela não disse, mas eu ouvi. Existem outros Outros, que também podem dizer de mim, e preencher a minha lacuna (e com outras coisas que não são lixo, mas tesouros), ainda que eu esteja mergulhada, demarcada e presa na linguagem e no sistema capitalista. 

    A palavra de 2023 é amor. O arcano que rege o ano é o carro, a 7ª carta do tarot, o meu número. Não acho que terei dificuldade de escolher ou bancar minhas escolhas, principalmente a de amar. Acho que meu novo desafio é aprender o sentido de vivê-las. 

Metas para 2023

Pessoal 

Trabalhar vícios (comida, carência);

Não entregar minhas ideias de bandeja para as pessoas;

Ser mais receptiva à frustrações/rejeições/negativas;

Desconstruir preconceitos como ideia de estar "sempre à frente" e costumes sociais não questionados para mim como existir feriados religiosos em âmbito nacional;

Ter uma rotina que contemple mais que minha vida profissional;

Aprender a descansar;

Descobrir meu estilo, gostos pessoais, interesses;

Entender meu posicionamento político e perspectiva de mundo;

Buscar novas referências de Outros;

Gastar tempo comigo;

Levar mais a sério responsabilidades e honrar contextos em que estou envolvida, sejam quais forem, sem subestimar;

Escolher minhas lutas e projetos (em todos os aspectos, inclusive com pessoas).


Social 

Ter mais tempo de qualidade com a minha família (pais, Margot, avô, Fer);

Manter maior contato com amizades que eu quero cultivar (Gus, Pat Amaral, Luana Bressan, Gabi Aparecida, Letícia Chagas e Gagliardi, Lucas e Carol, Amanda Madi, entre outras);

Cultivar meu namoro;

Fazer festas de fim de ano por conta própria em casa;

Viajar sozinha, com meus pais, com meu namorado, com amigos;

Ir na parada LGBTQIA+ e me orgulhar.


Espiritual 

Entender meu posicionamento religioso e decidir o que fazer com ele; 

Talvez fazer acampamento sênior; 

Seguir dando atenção à minha intuição.


Saúde 

Continuar com o checkup médico;

Fazer um exercício físico, esporte ou academia (sesc??);

Comer mais saudável.


Lazer 

Participar mais de oportunidades culturais: cinema, teatro, palestras, shows, etc. 

Ler pelo menos 1 livro que não seja relacionado à trabalho por mês.


Financeiro/Estudos/Profissional/Carreira

Entender qual meu objetivo em relação à casa;

Terminar de mobiliar casa e escritório;

Passar em um concurso público e ter estabilidade financeira;

Retirar o certificado da pós-graduação;

Me dedicar à iniciação científica;

Falar menos em sala de aula, não atrapalhar meus colegas com meus pensamentos e posicionamentos;

Entender o que realmente quero fazer da minha vida; 

Ser competente no que propuser a fazer; 

Não deixar pessoal e profisisonal se influenciarem e se prejudicarem;

Treinar olhar crítico que transforma, não que reclama;

Parar de fofocar;

Não perder sonhos de vida: Formação em Psicanálise, Instituto Zoé, voltar a escrever, carreira acadêmica.

domingo, 18 de setembro de 2022

VERDADE(S)

Semana passada eu tive minha primeira aula de Teoria e Ensino da Narrativa, com um senhorzinho careca muito inteligente (e provavelmente ateu), chamado Arnaldo. O homem é um gênio do encantamento pela palavra, porque enquanto falava, meus ouvidos não captavam mais nada ao redor. Não sei se tinha algum outro ruído na classe, porque meus colegas pareciam tão concentrados quanto eu (talvez fosse o espírito do início de semestre, mas duvido). 
Falávamos sobre verdade. Arnaldo disse que a verdade não existe, o que existem são verdades. Esse é um posicionamento relativista que muito me agrada, mas que me parece bastante incompleto. Seu argumento foi mais ou menos o seguinte: se um homem se suicida se jogando da janela de um prédio, cada pessoa que observa o fato, por ser atravessada pelo simbólico, faz uma leitura do que viu. Logo, o fato se transforma em fatos, pois existem várias versões, várias visões do mesmo. Certo? Sim. Mas existirem várias interpretações de um fato não muda que alguma coisa aconteceu de algum jeito específico. O pulo do gato, é que não dá pra enxergar esse jeito.
Arnaldo também disse que, observando a narrativa bíblica de gênesis, repleta de metáforas, quando Adão e Eva comem o fruto da árvore da vida, eles estão comendo o fruto que permite o conhecer. Interpreto a mordida do fruto pelas personagens como o momento em que somos inseridos na estrutura linguística, estrutura que nos faz ler o mundo, da qual é impossível fugir. Portanto, estrutura pelas quais construímos nossas "verdades". Para conhecer, damos nome. Tudo o que existe, existe porque nomeamos. Igual aquela história de que alguns grupos de esquimós tem muitos nomes para a cor azul porque existe a necessidade cotidiana do grupo de diferenciar tonalidades que para a minha cultura não existe. 
Mas, será que, hipoteticamente, de acordo com as possibilidades interpretativas bíblicas, antes de conhecer qualquer coisa, lá no jardim do Éden, os seres humanos não estavam imersos em uma estrutura que ultrapassava à linguística? Estrutura essa que permitia que enxergassem a totalidade das coisas? A "verdade"? Enxergassem, mas a ponto de poderem ter acesso à totalidade como Deus tinha (não podiam tocar a árvore do conhecimento mesmo que fizesse parte do paraíso), por serem co-criadores? Enfim, o paradoxo da comunhão. 
Escolhendo o conhecimento, Adão e Eva escolheram também a limitação pela estrutura da linguagem, do conhecer, perdendo o acesso à todos os componentes do paraíso. A existência atravessada pela linguagem é uma existência filtrada, pois precisa da estrutura. Por isso a expulsão do paraíso, não por termos uma personagem de Deus previsível e autoritária, "plana", como apontado por Arnaldo. Para que fosse possível seguir existindo vida em um mundo palpável de habitar a partir da estrutura da linguagem, já que o antigo já não era mais acessível. Outros pontos que o professor desenvolveu, como a questão da desobediência e valoração negativa do trabalho e das dores do parto são outra história (que ainda não pensei sobre e não tenho nada pra contribuir como cristã), mas quem sabe qualquer hora não tenha. 
Tá aí porque acho o argumento relativista das verdades incompleto. Existem diversas verdades, já que confirmamos nosso atravessamento estrutural pelo simbólico. Mas como saber se "A verdade" existe ou não? Impossível, pois ultrapassa a compreensão do nosso sistema de leitura do mundo. Permanece então, a fé. Ou a falta dela. Por que, no final, se existe ou não "A verdade", não importa pra ciência, porque não temos muito como acessá-la metodologicamente. Porque continuamos reféns da estrutura, e o real continua a escapar. 

sábado, 4 de junho de 2022

Aprendiz (II)

Eu me entreguei pela via do concreto. Confesso que não pensei que seria esse o meu caminho, já que meu universo foi sempre o do abstrato. Eu me entreguei aos trancos e barrancos, igual quando me obriguei a vencer a fobia social sem nem mesmo nomeá-la. Não tive nem certeza se era entrega das primeiras vezes. Não era. Porque quando foi, eu soube. E eu me entreguei primeiro pelo desejo. O desejo espelhado, bidirecional... o aprendizado do toque, do olhar, do cheiro, das formas... essas coisas que me ensinaram como desvios. Solitária e particular, como a fome que dá pra matar, uma intimação pra guerrear. Um caos, uma desordem. Uma onda gigante. 

Depois eu viajei. Pra fugir da possibilidade de desencontrar a única pessoa que de fato me fazia sentir viva, com suas mãos enrugadas e papo cabeça que desafiava o pouco estudo. Existem países com 2 capitais, tipo a Turquia. Entendi que o concreto era mais que me mostrava, tinha outras facetas. Era carinho. Era música e cor. As cores mudavam quando eu ditava, e a playlist era do gênero que eu preferisse. O concreto era contato.

Então aprendi a dar. Eu dei meus limites,  dei muito além do que podia. Até o nascer do dia. E descobri que eu ficaria mais uma vida, mas não fiquei. O que era fome de guerra, de conquista, se fez reestruturação de territórios, de nomenclaturas nunca aclaradas. A entrega não pede mais que o tempo presente. 

Antes eu testava o quanto podiam usar dos meus oferecimentos. Mas, de repente, me afogando entre muitos gostos.... em um recorte sincrônico eu encontrei um ritmo. O que ofereci foi real, não pré programado em um molde antigo. Ofereci completo. E gostei. 

Eu soube que era o que é quando meu coração foi convidado, de forma cortez e à minha altura, a se abrir. Enxerguei pela primeira vez que não havia barreira, porque ainda que a gente fosse diferente, um não era melhor ou pior que o outro. Cada detalhe derreteu o gelo dos traumas, dos medos, das dores... cada encontro foi brisa, suave, suave... envolvente... e cada segundo foi sorte. Como uma visita em um ponto turístico diferente, daquelas que planejar ver tudo é besteira... tem que se deixar viver... e mais do que dar, o meu entregar foi receber. Aprender a receber e se arriscar a perder... o concreto e o abstrato se beijaram, e eu encontrei na falta do outro a minha linguagem... nem sempre são músicos que entendem músicos... a arte de amar não se restringe.. 

domingo, 7 de novembro de 2021

Metas para 2022

Uma questão muito difícil pra mim sempre foi estar à altura da compreensão do mundo. Demoro pra entender genuinamente os processos. Por outro lado, vivo muito bem intuitivamente. Essa última habilidade abafa à falta da outra. Por muito tempo evitei lidar com essa minha dinâmica, porque gostava da aparência que ela me dava: uma pessoa que sabia um pouquinho de tudo, que sabia se movimentar bem por onde passava, uma pessoa que se mostrava tonta, mas no fundo nem era. Todo mundo sempre achou que estive no controle, mas um dia estive? Nunca. Que sabia o que estava fazendo. Sabia? Não. E estou cansada de agir diferente como se estivesse. 
Esse ano, a palavra é entrega. Eu acho que vou chorar muito, mas vou crescer. Já sei que vai ser um ano desafiador. Porque preciso ser transparente. Primeiro comigo, depois com os outros. 
Como letreira que sou, posso afirmar que entrega é um verbo transitivo direto, ou seja, que precisa de complemento para ter sentido completo. O que isso tem a ver? Significa que a moção da entrega é uma moção de grupo, de ir junto, de se mostrar, de ver, dar tudo de si. 
Eu não sei se em outro momento seria capaz de viver essa moção, sinceramente. Mas acho que agora sou. O vaso que recebia o vinho não é mais um vaso cheio de rachaduras... agora ele sustenta o vinho. Sustenta o outro. Sustenta a entrega. 

Metas para 2022

Pessoal 
Ter uma rotina que contemple mais que minha vida profissional. 
Aprender a descansar. 
Descobrir meu estilo e gostos pessoais 
Me responsabilizar mais por mim: pelos meus sentimentos, meu corpo e pela minha vida 
Me expor menos; me colocar menos em situações que não me sinto confortável 
Ser mais receptiva à frustrações, rejeições e negativas 
Dar coisas que não uso embora / ser minimalista 
Entender meu posicionamento político e perspectiva de mundo 
Escolher minhas lutas e projetos (em todos os aspectos, inclusive com pessoas). 

Social 
Convidar meus amigos pra casa
Fazer por conta própria as festas de fim de ano 
Viajar sozinha ou com amigos 
Viajar com meus pais 
Namorar 
Estar disposta a interagir mais com desconhecidos no cotidiano
Fazer amizade com vizinhos 
Fazer amizade com pessoas com a mesma vibe que a minha (assim que que descobrir a minha vibe)
Visitar mais meus avós e primos 
Aprender uma língua a mais que o espanhol (inglês ou italiano??)

Espiritual
Missa diária 
Confissão mensal 
Decorar os terços em latim, inglês e espanhol
Pregar sem falar diariamente 
Dar dízimo 
Fazer acampamento Senior
Me integrar na nova paróquia
Casa em chamas mensal? 

Saúde e lazer 
Procurar os médicos que fico procrastinando pra procurar 
Aprender andar de skate (comprar um?)
Voltar para a Natação ou fazer basquete (fazer exercicio físico diário) 
Comer mais saudável e cozinhar (talvez pedir comida fit?) 
Participar mais de oportunidades culturais: cinema, teatro, palestras, shows (ibilce, sesc, etc)

Financeiro 
Ter minha casa e meu consultório 
Ser totalmente independente financeiramente
Ser mais generosa 

Carreira 
Concursos públicos 
Formação em psicanálise 
Instituto Zoé
Iniciação científica na Letras (descobrir o que gosto de pesquisar) 
Me dedicar mais à escrever 
Visitar produções antigas e transformar em artigos 

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

#17 Sou geógrafo, não explorador

Acho que estou diante de um questionamento que permeia o modelo científico vigente: o modelo médico, da razão. "Sou geógrafo, não explorador". Ainda hoje, no meu contexto histórico, estou diante de companheiros que se enraízam no "penso, logo existo". Não estou dizendo que a razão não seja importante. É muito importante que existam geógrafos. E filósofos, e médicos, e biólogos, e matemáticos. Mas como constatou Kuhn, a ciência é feita de paradigmas, e paradigmas precisam sempre ser quebrados. Não dá pra construir uma vida inteira enraizado em qualquer ideologia racional se o objetivo é viver uma vida bem vivida. A ciência é boa quando serve o ser humano  - e pra algo servir tem que mudar junto. Se não muda junto é falsa certeza. 
Acho que não explorar diz também do péssimo hábito da minha geração de aprender muito passivamente. Não praticamos esportes: ao invés disso assistimos alguém praticá-los através de uma tela de computador. Não passamos perrengues profissionais: ao invés disso lemos artigos científicos a respeito, conversamos com os mais velhos. Não nos entregamos nas relações por medo, não ouvimos, não sentimos cheiro, não tocamos, não beijamos, não abraçamos, não sentimos dor. Não anotamos nossas flores efêmeras. 
Mas aí, quando elas passam, entendemos que elas eram, no fundo, tudo o que importava. "Minha flor é efêmera e eu a deixei sozinha com apenas quatro espinhos para se defender". Mas o planeta era grande demais pra anotar uma flor. 
O empírico parece não ser rebuscado o suficiente, não é chique. Como a gente chegou aqui? O que dá pano pra manga é viver fragmentado. 
Que a gente não permaneça preso na velha máxima da quantidade X qualidade de registrar ou viver... que a gente acorde, que a gente aprenda a valorizar nossas flores...

"Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não uma solução. Mundo, mundo, vasto mundo, mais vasto é meu coração" Drummond