"Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
óh mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar que ser amado;
pois é dando, que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna."
Oração de São Francisco de Assis
Não sei se dei algum passo em direção à palavra entrega, palavra de 2022, mas eu tentei dar. Eu acho que tentar tanto, me fez perceber que meus conflitos em relação à ela já não existem mais. Inclusive aquele documentário que ganhou um óscar da netflix, que envolve um polvo e um cara deprimido me ajudou muito a metaforizar e internalizar minhas questões com entrega. Entregar definitivamente não significa conseguir viver tudo o que eu gostaria, isso é mais se iludir, rs. Entregar é aceitar que, ainda que eu dê tudo o que posso, pode não ser 100% do meu potencial de entrega em outro contexto ou circunstância. Mas que, por ser o meu melhor, é o suficiente. Mesmo quando não é. Me entregar também não é mais um fardo. Ou um evento super especial. É o que é necessário pra crescer e amadurecer. Então eu me entrego.
Eu finalmente me resolvi com a questão das escolhas. Eu entendi o que era o "deixar o nada vir à tona". A fragmentação, o trabalho em excesso, crenças de fracasso, procrastinação, espaços bagunçados e mal delimitados, tempos idealizados e sempre cheios e eu sempre atrasada... e um ódio. Um ódio tão forte, e tão impactante, e tão avassalador, e tão grotesco. Todos significantes de um grande Outro chamado sistema capitalista para o qual eu tinha entregue minha alma desde criança, sem consciência. O tudo era esse Outro que eu achava que era Eu. Mas as vozes de fora se calaram, as ondas de dentro se amansaram. E não sobrou nada. Só meu eu esvaziado, esvaziado de significantes, cheio de lacunas e o meu primitivismo, o que é claro e o que é cru. E nesses espaços vazios, onde podem passar muitas coisas, encontrei aquelas que são simples e, de tão simples, difíceis.
O amor é tão potente quanto o ódio, disse minha analista. O amor é composto de pequenos surtos, como o de Ana, no conto "amor", de Clarisse Lispector, disse minha analista (e o meu professor de Narrativa Brasileira I, mas eu ainda estou tentando me acostumar com a demora das fichas caindo, que eu acho que em breve também será passado, já que minhas estruturas psíquicas parecem finalmente estar dando indícios de que sairão da fase de latência). Eu estou sustentando a nossa relação, disse a minha analista. O amor sustenta relações. Ela não disse, mas eu ouvi. Existem outros Outros, que também podem dizer de mim, e preencher a minha lacuna (e com outras coisas que não são lixo, mas tesouros), ainda que eu esteja mergulhada, demarcada e presa na linguagem e no sistema capitalista.
A palavra de 2023 é amor. O arcano que rege o ano é o carro, a 7ª carta do tarot, o meu número. Não acho que terei dificuldade de escolher ou bancar minhas escolhas, principalmente a de amar. Acho que meu novo desafio é aprender o sentido de vivê-las.
Metas para 2023
Pessoal
Trabalhar vícios (comida, carência);
Não entregar minhas ideias de bandeja para as pessoas;
Ser mais receptiva à frustrações/rejeições/negativas;
Desconstruir preconceitos como ideia de estar "sempre à frente" e costumes sociais não questionados para mim como existir feriados religiosos em âmbito nacional;
Ter uma rotina que contemple mais que minha vida profissional;
Aprender a descansar;
Descobrir meu estilo, gostos pessoais, interesses;
Entender meu posicionamento político e perspectiva de mundo;
Buscar novas referências de Outros;
Gastar tempo comigo;
Levar mais a sério responsabilidades e honrar contextos em que estou envolvida, sejam quais forem, sem subestimar;
Escolher minhas lutas e projetos (em todos os aspectos, inclusive com pessoas).
Social
Ter mais tempo de qualidade com a minha família (pais, Margot, avô, Fer);
Manter maior contato com amizades que eu quero cultivar (Gus, Pat Amaral, Luana Bressan, Gabi Aparecida, Letícia Chagas e Gagliardi, Lucas e Carol, Amanda Madi, entre outras);
Cultivar meu namoro;
Fazer festas de fim de ano por conta própria em casa;
Viajar sozinha, com meus pais, com meu namorado, com amigos;
Ir na parada LGBTQIA+ e me orgulhar.
Espiritual
Entender meu posicionamento religioso e decidir o que fazer com ele;
Talvez fazer acampamento sênior;
Seguir dando atenção à minha intuição.
Saúde
Continuar com o checkup médico;
Fazer um exercício físico, esporte ou academia (sesc??);
Comer mais saudável.
Lazer
Participar mais de oportunidades culturais: cinema, teatro, palestras, shows, etc.
Ler pelo menos 1 livro que não seja relacionado à trabalho por mês.
Financeiro/Estudos/Profissional/Carreira
Entender qual meu objetivo em relação à casa;
Terminar de mobiliar casa e escritório;
Passar em um concurso público e ter estabilidade financeira;
Retirar o certificado da pós-graduação;
Me dedicar à iniciação científica;
Falar menos em sala de aula, não atrapalhar meus colegas com meus pensamentos e posicionamentos;
Entender o que realmente quero fazer da minha vida;
Ser competente no que propuser a fazer;
Não deixar pessoal e profisisonal se influenciarem e se prejudicarem;
Treinar olhar crítico que transforma, não que reclama;
Parar de fofocar;
Não perder sonhos de vida: Formação em Psicanálise, Instituto Zoé, voltar a escrever, carreira acadêmica.
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