Na minha última sessão de análise, percebi que sou a única pessoa que vê minha história pessoal por inteiro, de modo linear. Não estou deixando de lado as falhas da memória ou as impressões subjetivas de mundo que todos temos (e com as quais trabalho a partir da psicanálise), mas notei que sou a única pessoa que pode acessar, caso queira, de modo diteto, minha história inteira, porque, afinal, foi eu quem vivi. Outra pessoa só pode acessar se eu escolher compartilhar com ela. E se ela escolher saber.
Perceber isso me fez sentir uma profunda solidão.
Antigamente eu costumava me sentir segura com essa solidão, quando eu era a única a saber algo sobre mim. Parecia que só assim eu podia existir da minha forma mais crua. Eu tinha medo que me vissem e acho que isso me fazia emocionalmente indisponível.
Mesmo assim, entendo agora que, no fundo, eu sempre quis que alguém me visse. Pelo menos em parte. E que, pouco a pouco, fosse aprendendo cada vez mais a ver.
Mas entre alguém me ver e ir embora e ninguém nunca me ver, eu prefiro não me mostrar pra ninguém.
Talvez seja por isso que pessoas arrogantes me atraem tanto.
Ou pessoas também emocionalmente indisponíveis.
Tentei me mostrar no meu último relacionamento, mas não houve interesse por parte do meu ex namorado de me ver. Também não há interesse dos meus pais em me ver. Não há interesse de ninguém em me ver.
Saber disso me fez chorar.
Também gostaria de ver alguém, mas as pessoas não querem se mostrar. As que querem, só estão buscando plateia, não conexão.
Faço análise há 11 anos e, pode ser que, pra algumas pessoas, eu não tenha crescido nada. Mas isso é porque elas não se dão ao trabalho de me ver. Eu vejo o quanto eu cresci.
Percebo, enquanto escrevo aqui no mercado esperando a minha senha do açougue ser chamada, que eu não deveria mais me mostrar.
Entrei no tinder de novo, recentemente. Fui de "Ainda não sei" pra "Nada serio, mas depende". Depois pra "Algo sério, mas vamos ver". E agora, finalmente, pra só "Algo casual".
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