sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Carta aberta ao sol

Recentemente, tenho pensado em como as palavras se banalizaram pra mim por eu não saber fazer um bom uso delas. Sinto que, por vezes, elas me faltam e aí elas perdem o sentido de existência na minha enunciação. Na minha intimidade, quando as palavras faltam, é um alívio, pois o silêncio me deixa nu diante de mim mesmo. As vezes, me alieno em outros que falam através de telas, pois meu silêncio fala muito comigo, de modo cru, e às vezes, eu não quero ouvir o que ele tem pra falar - o que é uma grande besteira. 


Ultimamente, tenho me perguntado, com frequência, como oferecer ao outro um silêncio cru que seja ponte, não muro. Não sei a resposta ainda e quero encontrá-la desesperadamente. Achei (e ainda acho uma vez ou outra), que eu deveria trabalhar na minha oratória e na fundamentação teórica dos meus posicionamentos e pensamentos, mas sinto que tem algo bastante relevante, que eu não sei o quê é, que me impede de fazer isso numa espécie de resistência rebelde. 


Acho que na verdade eu sei do que se trata: é o discurso furado. As palavras sempre vão ser insuficientes pra explicar alguma coisa. é claro que isso não quer dizer que eu não deva realmente me movimentar para lapidar meu uso delas, mas tenho elaborado que talvez eu não consiga levar tão a sério a retórica, ainda que saiba da grande potência dela, porque eu sigo apostando em outros tipos de comunicação. E isso é tão abstrato e inexplicável, mas ao mesmo tempo tão eu, seja lá que nome tiver esse eu. 


Em 2016 escrevi um textos sobre uma trilha de sóis - um texto muito chato, longo, prolixo, sem o menor senso de síntese, mas que quis ser escrito. Uma impressão de mundo que quis ser materializada em palavras.


Lembro que, naquele contexto, a palavra "sol" me afetava muito e eu gostava de como ela aparecia nas músicas que elenquei, muito mais do que qualquer construção metafórica que fiz. Atualmente, sinto que estou habitando uma cidade psíquica em que tudo é noite e que a escuridão domina todos os cantos dela. 


Hoje, o sol resolveu me alcançar no meio da noite. Pelo psiquíco, mas também pelo material. 


Eu dirigia por uma estrada limpa e infinita. A lua iluminava a terra. Eu conseguia ver umas sombras de árvores e placas através de sua luz. Essa mesma experiência se repetiu três vezes: dirigir à luz da lua. Acompanhado. E sozinho. 


Eis que do infinito uma luz brilhante ameacou aparecer. Apenas seus raios se manifestaram. O que duraria poucos segundos, parecem segundos infinitos, tal qual aquela estrada. Os raios são luminosos, como a minha metamorfose sempre quis ser. Mas eu moro neles e não queria. Eu queria morar no sol. 


Penso no quanto me angustia que a luz não chegue nunca, assim como minhas palavras não chegam às pessoas que eu amo. Penso na angustia de me contentar com raios de sol, os que saem de mim e os que me são oferecidos através da resistência. 


Confiar é difícil, pois a traição dói. Mas é necessário para alcançar a lealdade. Consigo mesmo. Com o outro.


O farol finalmente surge e sua luz é muito forte, a ponto de quase me impedir de ver a estrada e os outros objetos. Ele é bruto, muito selvagem. Ele é minha nudez íntima no meu silêncio particular. Ele me rasga, e eu o odeio. Mas eu o desejo. 


Eu gosto muito da estrada pouco iluminada, das sombras que a lua me permite ver com sua luz. Mas essa luz não é suficiente. Os raios luminosos não são suficientes. Eu sou sol. Quero brilhar. 


O calor do sol é essencial para os seres humanos, mas só é suportável pois ficamos a uma distância segura dele. Caso contrário, morreríamos queimados. Eu sinto necessidade de expressar o calor que me consome e não quero mais guardá-lo por puro medo de ofuscar olhos despreparados ou de queimar quem chegue muito perto.


Como oferecer meu calor sem ofuscar? Sem ferir? É melhor uma personalidade opaca e insossa?


Anseio por matar e morrer no calor, por me consumir e me deixar ser consumido pelo outro, por expurgar virtudes e cultuar pecados. 


Como me contentar com pouco?

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Carta aberta à lua

 faz tempo que eu não escrevo aqui - e tantas coisas mudaram. eu me dei um novo nome, bernardo, que nem sei mais se é meu. eu escolhi esse nome porque tem quase as mesmas letras de beatriz, mas tem letras diferentes também, o que significa que ainda sigo sendo eu, mas a partir de outras configurações.


inesperadamente, conheci alguém que virou meu mundinho de cabeça pra baixo. você. um satélite natural.

simplesmente precisava desse encontro. sempre tão preso e paralisado nos movimentos de agradar, e, de repente, sou confrontado a me expor. tenho medo de me mostrar e ser só um maluco intenso e sem noção. provavelmente seria mesmo. tenho medo do discurso furado que sei que me define e inveja de pessoas como você que em sua vivem em um discurso sem furos, com coragem e ingenuidade.

nunca quis alguém que me instigasse a ser melhor. sempre vi isso como uma pressão, uma crítica. mas o timing de te conhecer foi perfeito, consegui virar uma chave que eu nem imaginava que eu tinha nas minhas mãos. você me faz melhor.

beatriz significa aquela que faz os outros felizes. bernardo significa urso. recentemente, conheci um urso chamado "urso da lua", pois todos da sua espécie tem uma mancha estampada no peito que lembra uma lua.

acho engraçado você odiar homens, e fazer emergir em mim o mais autêntico traço de bernardo: o urso. um bicho protetor, bastante selvagem, não monogâmico.

te amo, lua.

como beatriz, porque quero te ver feliz; como bernardo, porque te carrego no peito. 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Espelho p. 2

não estou mais forte emocionalmente. sigo na vibe da derrota. mas sinto que preciso dessa lista.


"meus dez maiores defeitos: uma lista que pode me ajudar muito ou me levar mais ainda pro buraco"

1- medo. de tudo o que me exponha, do que possa me fazer ser visto. de errar, de tentar coisas novas. ele medo se divide em mais dois muito doídos e difíceis de lidar pra mim: ciúmes (me sinto facilmente ameaçado por outras pessoas, com medo de perder meu lugar) e covardia (medo de agir como desejo agir). dentro do medo também tem a comparação com os outros. me comparo de todas as formas, me sinto inferior de várias maneiras.

2- ressentimento. guardo muita mágoa, não consigo deixar o passado pra trás.

3- rebeldia. sou do contra demais porque preciso me destacar de algum modo. tem muita gente que é hater meu.

4- egoísmo. para me proteger, sempre me coloco em primeiro lugar.

5- teimosia. tenho dificuldade de processar outros pontos de vista porque isso me faz perder o controle sobre meus próprios mecanismos.

6- intensidade, impulsividade, reatividade. não sei lidar muito bem com as minhas emoções. quando algo me afeta, sou bastante sem noção.

7- intimidação. tento controlar as pessoas ao meu redor. faço com que elas tenham medo de mim pra que elas fiquem ao meu lado.

8- sou muito crítico comigo de modo que me paralisa e com os outros de modo que assusta e afasta.

9- dependencia emocional e necessidade de aprovação dos outros. quero muito ser amado e não acredito que alguém possa me amar. quando essa raridade acontece, normalmente fico com dependência emocional na pessoa. também preciso, constantemente, de aprovação dos outros.

10- vítimista. as vezes acho que tudo acontece apenas comigo. quero sempre ir pelo caminho mais fácil. 

domingo, 8 de junho de 2025

Espelho

atualmente tenho enfrentado algumas dificuldades em vários âmbitos da minha vida. minha chefe resolveu pegar no meu pé, o que me deixa extremamente inseguro, chateado e irritado; tenho que entregar o relatório da minha pesquisa daqui há uns 20 dias e deveria ter começado em fevereiro mas nem comecei; meu término de relacionamento já vai fazer um ano, meu ex já está com outra e eu ainda não superei; meu outro ex que ia largar a namorada tóxica pra ficar comigo segue com ela; eu engatilhei com uma menina super gente boa que conheci recentemente e poderia super ser uma amizade pra vida toda; e, por fim, sigo endividado. 

sendo assim, sinto que estou sob muita pressão e que isso vem abalando minha auto-estima. 

tive a ideia de tentar listar minhas principais qualidades neste post para me lembrar delas. então lá vai:


"dez qualidades que vejo em mim: uma tentativa de não sucumbir à pressão da vida adulta" 


1 sociável e com bom repertório sócio cultural - consigo me relacionar bem em diversos contextos, conversar sobre vários assuntos, fazer as pessoas se sentirem confortáveis e seguras


2 carinhoso - gosto de demonstrar o que sinto para as pessoas que amo


3 sensivel - consigo perceber com facilidade como as pessoas se sentem (apesar de não saber muito o que fazer com isso)


4 boa autopercepção - consigo me perceber com certa facilidade e de buscar recursos para elaborar minhas demandas


5 generoso - gosto de compartilhar a vida, tudo o que tenho com as pessoas que eu amo


6 cuidadoso e zeloso - sou detalhista com pessoas que eu amo, gosto de cuidar do que é meu


7 comprometido e disciplinado - cumpro com meus compromissos, sustento as consequências das minhas decisões, faço o que precisa ser feito


8 olhar estético apurado - reparo no simples do cotidiano e me deleito com isso


9 constância - não desisto fácil do que me proponho a fazer. apesar de não sentir que cresço tanto quanto eu gostaria, estou sempre seguindo em frente, tentando outra e outra vez.


10 capacidade de dar espaço - respeito o tempo das pessoas pra viver seus processos; também respeito meu próprio tempo. 


nossa, foi uma lista difícil. tive que apelar para o chat gpt. mas ele me ajudou muito listando várias qualidades que eu não tinha pensado ainda. me ajudou bastante também enxergar o que preciso melhorar porque qualidades que eu achava que eu tinha, eu não estou entregando o quanto deveria. talvez eu faça uma lista de defeitos também em algum momento menos sensível, para eu conseguir acessar com frequência e tentar melhorar. 


terça-feira, 18 de março de 2025

Vi/Be

 Você é minha virada de página

Você é meu ano novo

Seus beijos são o mergulho no oceano, de novo e de novo

que domam as ondas mais altas do medo

ondas que me perturbam logo cedo

Seu toque é a linha que escreve o amor em letra cursiva no meu coração 

Com você eu sou minha melhor versão

Igreja, templo santo, assembleia de fiéis

Minha fidelidade é a ti

Minha adoração é por ti 

Minha vulnerabilidade é pra ti

Minha vida é em ti

Sua ausência é o mesmo que parar de respirar. 

Te amo tanto que não cabe em mim, tenho constantemente que me reinventar 

Te amo com meu corpo, com meu coração

Te amo com a minha cabeça, na minha ficção 

Te amo como Ana, como Bia, como Ab, como Triz.

Te amo como Bernardo, te amar me faz feliz.

Te amo quando acordo e quando durmo.

Te amo no claro, no escuro.

Te amo com medo, e quando estou cheio de coragem

Te amo calmo e te amo selvagem

Te amo no campo ou na cidade 

Te amo quando fica e quando está de passagem

Teu amor é meu norte, meu sul, meu leste e oeste

Te amo enquanto nosso amor padece 

Te amo quando o sol brilha

Amo pensar na nossa família 

Te amo triste, te amo contente 

Te amo sozinho e cercado de gente 

Te amo todo, te amo tanto  

Te amo profano, te amo santo

Meu céu é você, meu amor. 

Meu paraíso coletivo, meu inferno particular  

Meu luto, minha luta. 

Reizinho manhoso. 

Se vens as 4h da tarde, desde as 3h estarei te esperando. 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Essa coisa bem chatonilda que vem de noite e parece um espírito obsessor

Ultimamente eu tenho sido feliz. 

Eu encontrei uma maneira gostosa de organizar a minha rotina que me faz enxergar os progressos que eu tenho em cada área da vida. Ela também me ajuda alternar entre atividades que necessariamente precisam ser feitas, atividades do dia a dia e atividades que eu gosto. Eu tenho conseguido ver um filme por semana, por exemplo. E progredir na minha pesquisa. Tenho sido fiel às leituras dos grupos de estudo que participo e também mais pró-ativa com os compromissos dos quais sou líder. 

Me sinto mais segura no ambiente escolar. Acho que é a famosa experiência que a gente adquire fazendo as coisas. Eu tenho mais alunos esse ano e, mesmo assim, sinto que tenho tido um olhar mais amplo da minha sala de aula. Sei mais por onde entrar e no que devo me implicar, o que facilita bastante minha postura como adulto referência e escuta das necessidades deles. 

Atender presencial foi um acerto. Apesar de seguir com os mesmos pacientes de sempre, eu me enxergo muito mais engajada no meu desejo de ser analista. Tenho experimentado os efeitos de uma análise, me parece. Eu me tornei outra pessoa. Precisei fazer o luto de uma Ana Beatriz que estava pendente há algum tempo e agora lido com o desconhecido que é ser essa eu do presente. Que alívio isso. Mês que vem começo a participar das atividades do fórum lacaniano do interior paulista. Essa coisa de se movimentar pra investir na clínica.

Hoje foi aniversário da minha avó, aquela que ainda tá viva. Ela me convidou pra almoçar, assim como convidou toda a família. Eu gosto da minha avó, mas não queria ir. Eu não tenho vontade de interagir com a minha família paterna. Então não fui. Meus pais foram e eu fiquei sozinha em casa. Fazia um tempo que eu não me sentia tão confortável. Eu vi um filme triste, e ele me fez sentir saudade do meu avô, daí eu chorei alto, sem me preocupar se alguém estava ouvindo (não estava, porque não tinha ninguém em casa). Eu também dei banho na Margot com tranquilidade (não fiquei ansiosa pensando que meu pai faria antes de mim, ou que me pressionaria pra fazer, eu fiz porque quis). Minha mãe ficou bem chateada mesmo com a minha ausência, me trouxe dois docinhos da leleninho, mas eu fiquei bem. 

Esse espaço me é tão caro. E há tanto tempo não o tenho. 

Tenho pensado nessas coisas que são minhas. Esse espaço que permite que essas coisas minhas venham à tona. Eu faço muitos movimentos para que esse espaço exista. Eu sai do emprego público que parecia um espaço da minha mãe; competia com o Iuri porque estávamos no mesmo campo profissional; escolho entrar em um fórum onde não conheço ninguém, onde não estão meus amigos; corto laços com a minha prima porque ela beijou dois dos meus melhores amigos, etc etc.

Toda noite quando deito a cabeça no travesseiro, eu sinto um vazio grande. Agora mesmo eu estava rolando o feed do instagram há mais de uma hora antes de vir escrever. Eu tenho sido feliz durante o dia. Eu me sinto bem, vivendo. Eu nunca me senti assim antes, e sei que tem a ver com a análise, com o luto da antiga eu. Eu me dei o direito de ser alguém que tava tentando ser desde sempre. Isso me reconstruiu. Os fragmentos que estavam dispersos foram se unindo, tipo numa constituição imaginária de identidade mesmo (ufa). Eu tenho criado um espaço pra mim. Um espaço de desejo. Mas de noite aparece o outro lado da moeda. Aquilo que eu tenho que bancar porque eu decidi escolher ter um espaço meu. 

Antes, eu costumava colocar minhas confabulações amorosas nesse vazio noturno. E ai, agora, eu meio que nomeei ele. Acho que o sentimento é solidão. Aquela que é constitutiva. Aquela que a psicanálise chama de desamparo estrutural. Antes eu tinha muito medo de olhar pra isso. Mas me veio um insight quando eu percebi que mesmo se alguém estivessem comigo do jeito que eu fantasiava, eu continuaria sozinha. Talvez porque eu tenha vivido isso com o Iuri em outros graus, o de estar só mesmo acompanhada porque éramos duas pessoas que não se conectavam. Mas de alguma maneira eu entendi que mesmo que fosse um encontro muito legal, eu estaria sozinha na vida.  Eu tenho tido uns encontros muito legais comigo mesma na minha rotina e tá tão bonito me ver crescer... eu tenho tido encontros legais com outras pessoas, e nem só no âmbito amoroso, e também é tão bonito de ver minha abertura emocional... mas existe essa coisa que vem de noite, que parece um espírito obsessor (bate na madeira?), que é bem chatonilda. Ninguém pode suprir essa coisa. E por que eu gostaria de suprir ela? Se ela tá ali pra alguma coisa serve. 

Mas assim, eu acho que eu não tenho escolha. Esse negócio de solidão constitutiva é parte da experiência de viver. E meio que eu tô aprendendo a me relacionar com ela. Antes eu afastava, com essa espécie de tamponamento. Agora fizemos amizade, o contato com ela não me dá mais crise de pânico e ansiedade. 

Eu acho que essa amizade tem um pouco da amizade que eu tenho com Deus. Agora que eu convivo com esse infamiliar, eu consigo pensar coisas que eu não conseguia antes. 

Vou fazer uma lista: 

1- Não preciso mais fingir que meus avós estão vivos e que eu posso visitá-los a qualquer momento, mesmo que eu saiba que eles morreram... pra onde eles foram? não sei e não tenho mais a necessidade de saber;

2- Consigo sentir muitas coisas pelo Iuri, tipo arrependimento por não ter percebido e dito pra ele que eu apreciava a companhia dele pra ver filmes e como eu gostava do que ele via em mim que ninguém mais via muito menos eu e raiva também por ele não amar nem ter paciência com a minha versão do passado que eu precisava matar delicadamente e fazer meu luto, e carinho por poder ter a chance de encontrar com ele mesmo com nossas imaturidades, e também pensar em nós e em mim antes e depois dele; e muitos outros sentimentos misturados;

3- Posso enxergar e ruminar o Ber que habita em mim; 

4- Me alegro por não caber mais em lugares que antes quis tanto caber; 

5- Sustento o desagrado da minha família e também quem escolhe ir e vir(e quando digito quem, eu tenho um quem bastante específico em mente); 

6- Começo a aprender a escutar. 

Eu não gosto do número 6, mas eu não consigo pensar em mais nenhum tópico que eu gostaria de acrescentar na minha lista. 

E tudo bem. 

Porque ultimamente eu tenho sido feliz. 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Feliz ano novo! (Afinal, não sou demissexual: uma coisa meio fluxo de consciência a la Clarice Lispector)

Da última vez que eu estive por aqui eu choraminguei horrores, meu deus. Da última vez não, das últimas vezes. Ainda bem que o ano ainda não acabou e eu posso me retratar. E ainda bem que graças a deus ninguém lê essa merda, apenas eu. Mas então, eu tava errada. O B. apareceu de novo (e sumiu de novo pra minha infelicidade POIS ELE ME ODEIA mas isso não vem ao caso). Não foi a última vez que eu vi ele aquela vez. Talvez essa seja a última vez. Não sei. Não sei o que passa na cabeça dele. Não sei nem o que passa na minha direito. Mas eu não estava errada só nisso. 
Eu descobri que não precisa ter afeto nenhum pra transar. E eu não sou demissexual. Era só medo e uma porrada de homem péssimo com quem eu saio (pois eu ainda não alcancei o patamar supremo de chegar em mulher). Antes eu caia muito no papo de homem garanhão sabe? Nossa como ele manja de sexo e eu não manjo. Mas olha, passei por tantos dates que me provaram o contrário nesses últimos meses que eu tô realmente impressionada. Eu ficava pensando que TINHA ALGO DE ERRADO COMIGO, eu que sempre arrasei no modo solo, quando um cara fazia o trabalho dele. Mas na real o problema era pegar gente virgem. Ou sem empatia. Mas em sua totalidade, virgens. 
Eu tenho mais preconceito com gente virgem que com crente agora, eu acho. Tudo o que eu precisava era que um abençoado fizesse o mínimo, umas preliminares. Mas como ele ia saber? Como eu ia saber?
"Opa, opa, vamos estar indo mais devagar por favor? Está doendo, sai de cima de mim". Isso foi o que nosso herói ouviu por não ter ouvido sobre a necessidade de umas preliminares antes. Como é que crente casa virgem pelo amor do senhor.  EU DESCOBRI A RODA mesmo depois de ser brutalmente exposta à Dora Figueiredo e Cátia Damasceno. EU DESCOBRI AS PRELIMINARES!!! EUUUU!!!! Depois de vários caras virgens ou pseudo-virgens eu DESCOBRI O SEGREDOOO!! Parça, olha que simples: se algo não entra é porque algo lá embaixo não está sendo facilitado para entrar. Não porque não é possível que entre. EU NÃO SERIA O ÚNICO SER HUMANO QUE DEUS FEZ SEM QUE SEJA POSSÍVEL ENTRAR E SAIR ALGO LÁ EMBAIXO, faça-me o favor, Ana Beatriz. Se eu preciso que algo seja facilitado, eu preciso de um estímulo. A informação tava lá, mas o conhecimento não. É o bug do medo / pânico / trava social. O diálogo ajudou? SIM, MAS ANTES EU TIVE QUE ENTENDER O QUE ERAM PRELIMINARES. NA. FUCKING. PRÁTICA. NO FUCKING MODO TENTATIVA E ERRO. E muitos erros. 
O que fez com que eu conseguisse finalmente ter esse insight burro? Um parceiro maravilhoso que, apesar de meio afobado, me deixou confortabilíssima pra MANDAR NELE e ser eu mesma. Obrigada pelo seu autocontrole, respeito e paciência, sr. peixinho (mas eu gostaria que vc não aparecesse do nada só uma vez por mês, de preferência morasse na beliche de cima do meu quarto). Perceber que eu seria ouvida e validada fez eu me sentir confortável para TRANSAR. Antes eu não transava porque eu nem EXISTIA. Eu só não SABIA como existir ali naquele lugar. E NEM OS CARA pelo amor de deus. 

Agora eu me sinto bem livre. 

E realizada. 

Pois eu sei transar 

(27 anos, caham. Demorei mas consegui) 

(estou bem orgulhosa)

PS. Ainda que eu tenha constatado felizmente que eu não sou demissexual, sigo sendo bastante monogâmica e uma gadinho do caralho que adorou o afeto que lhe foi oferecido. Sendo assim, adoraria seguir ditando (sim, pois sou uma ditadora) o que um certo homem tem que fazer pra me fazer feliz e por consequência ser feliz também (até ele aprender exatamente o que me faz feliz e fazer isso automaticamente será que algum homem faz isso porque meus pais vivem comigo há 27 anos na mesma casa me escutando pedir o mesmo hot dog misto com catupiry e ainda erram o lanche quando precisam pedir sozinhos eu definitivamente não quero um parceiro permanente fixo sei lá o que que não saiba comprar um hot dog misto com catupiry pra mim só que no sexo. e fora dele também, eu não gosto de x salada etc). Então, se a outra parte quisesse me pedir em namoro, casamento e ter vários filhos e pets comigo eu não negaria. Eu provavelmente precisaria de um tempo pra superar meus surtos com relação a estar em um relacionamento que o Iuri deixou mas eu sei que eu superaria bem pois estou conseguindo superar coisas que antes eu achava que eram insuperáveis tipo transar de boas. Mas, se para a minha tristeza e infelicidade se a outra parte não quiser aprender todos os jeitos que eu gosto de transar enquanto eu mesmo aprendo e eu aprendo o que ela gosta e a gente aprende junto e é muito feliz como dois coelhos no cio, eu sei que serei capaz de seguir procurando um parceiro (ou parceira) tão bom quanto ele. 

Pois eu sei transar. 

Feliz ano novo!!!

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Metas para 2025

Depois de perceber o quão emocionalmente indisponível eu sou e me deparar com a solidão que isso me oferece, tive um insight engraçado. No meu último texto, narrei as mudanças de status do meu perfil do tinder no último mês. Fui de "Ainda não sei" para "Nada sério, mas depende", depois para "Algo sério, mas vamos ver" e terminei em "Algo casual". Relendo esse percurso depois de alguns dias, agora sem tanta emoção envolvida, notei que rolou uma quebra de expectativa significativa. Eu estava num gradiente de abertura emocional, e, de repente... só voltei pra trás. Por que? 

Além disso, enquanto escrevia, não percebi esse recuo como um obstáculo, mas como a única saída que eu tinha naquele momento. Quando estou dentro de uma situação gatilho, essa situação me cega e o caminho mais absurdo parece o único caminho. A Bia vem ao front. 

O meu relacionamento com o Iuri só foi possível porque era eu quem conduzia as interações entre nós dois e fazia as demonstrações de amor necessárias. Se assim não fosse no começo, eu jamais conseguiria suportar entrar em um compromisso. Saber que alguém podia se interessar por mim era assustador. Me deixava com vergonha e sem reação, e assim eu só podia fugir. Mas depois que eu já me sentia mais segura, percebi que o que eu mais queria era que o Iuri se interessasse por mim. Que agora que eu tinha entregue todo o meu amor, eu gostaria de receber também. Mas isso não aconteceu. Por muitos motivos complexos que aqui não cabem. 

Perceber que eu fiz todo um movimento para tornar possível minha entrada em um relacionamento e que isso não tinha nada a ver com o movimento do outro de me dar amor ou não foi devastador. Mudou a minha posição: de tentar construir um espaço em que, na minha cabeça, eu poderia ser amada eu fui para a percepção de que toda essa construção era uma resistência da minha parte em experimentar o amor. Assim como um paciente que fala sem se ouvir para preencher o espaço da sessão, numa tentativa de suprir a angústia do aparecimento do inconsciente, eu construí uma persona para, ilusoriamente, me permitir experimentar o amor. 

Mas o amor é dar aquilo que não se tem. Não tem nada a ver com os movimentos que eu fazia. Freud diz, em algum momento, que o analista usa a mesma técnica de um escultor: "per via de levare". Um escultor retira partes da obra prima que usa, para modelá-la. O analista, do mesmo modo, retira esse preenchimento em excesso do analisando. Questiona o modo "per via de porre". 

Antes de começar a namorar o Iuri, eu saia com um cara que vou chamar de B. Uma das primeiras coisas que B. me disse quando saímos foi que nunca tinha namorado muito tempo. Lembro que a gente conversou sobre isso e eu cheguei a verbalizar que não entendia o porque, já que ele era uma pessoa muito legal. Entre outros motivos que não me lembro bem, nos afastamos porque ele me assustou por ser legal demais. Também porque logo comecei a namorar o Iuri. 

Depois do meu término, voltamos a nos encontrar. Curiosamente, em um primeiro momento, eu não me lembrava de quase nada dos nossos encontros, mas, na medida que fomos conversando, as memórias foram voltando à minha mente. Eu fiquei bastante surpresa com algumas imagens que me vieram. B. me acompanhou no FIT de 2022, o evento que eu mais gosto na minha cidade e que na maioria das vezes, frequento sozinha. Por algum motivo, eu chamei ele pra ir comigo e ele foi. Ele também me deu uma bandeja de doce árabe, meu doce favorito. Eu sempre falo pra todo mundo o quanto gosto desse doce, mas só a minha mãe tinha me dado. E tiveram outras coisas que eu também recalquei. 

Quando B. me assustou, eu tive uma crise de paranóia muito doida que durou, pelo menos, umas três semanas. Ele ficou do meu lado o tempo todo, hipotetizando soluções pra um problema que nem existia. Logo depois, eu comecei a namorar. 

Nos encontramos duas vezes. A primeira eu não entendi nada: eu tava adorando o rolê e ele inventou uma desculpa (ou não?) e saiu as pressas. Mas me levou em um beco legal, o que me fez lembrar que dois anos atrás a gente não sabia de nenhum beco bom e agora ele sabia de um. 

A segunda vez foi surpreendente. Não vou escrever detalhes porque quero que sejam só meus. Mas foi exatamente o que eu precisava. B. me entregou em uma tarde o que o meu ex-namorado não conseguiu entregar em 2 anos de relacionamento. Ele me deu presença. Não sei muito bem se presença tem a ver com afeto, mas eu me senti na mesma frequência que ele e isso explodiu a minha cabeça. Eu nunca tinha me sentido assim. 

B. ficou monossilábico e dias depois sumiu. Não conversamos mais desde então. 

Tudo bem. 

Ter a oportunidade de me encontrar assim com B. me fez perceber que eu quero muito estar emocionalmente disponível quando encontrar alguém emocionalmente disponivel. Pra eu conseguir ver a beleza das pequenas coisas que eu não vi com B. logo de cara, e não me assustar. 

O que eu mais quero é poder mostrar minha história pra alguém que queira ver. Então, se é isso que eu quero, eu devo ser uma pessoa emocionalmente disponível.

Nesse ano, 2025, temos três palavras. A primeira é reparar. Reparar pode ter dois sentidos: perceber e consertar. Acho que o primeiro movimento interior que eu tenho que fazer em mim em busca dessa disponibilidade emocional é perceber meus recuos, como eu fiz hoje, relendo meu texto. E junto desse movimento de auto percepção, devo buscar outras direções para meus pensamentos que agem como obstáculo, que querem me puxar para o ciclo e ensimesmamento. 

A segunda é sustentar. Sustentar a opção pela honestidade. Pelo processo "per via de levare", que vai me desmontar e reposicionar. Sustentar a rejeição ou o amor. Sustentar ser vista. Sustentar a responsabilidade de ser eu mesma e poder escolher como pensar, sentir, agir, ser e não poder controlar tudo isso no outro. 

Por fim, investir.  Procurar entender quando investir e quando não. Em que investir. Em quem investir. O que merece minha energia? Quem merece minha história? 


Metas para 2025 


Pessoal 

Exercitar virtudes;

Escolher melhor para quem entregar meu sagrado; 

Identificar, comunicar e respeitar meus limites;

Ser menos "carismática" e mais "autêntica";

Ter responsabilidade emocional com as outras pessoas; 

Ser mais receptiva à frustrações; 

Furar narcisismo de "ser a melhor" e sentimento de superioridade; 

Trabalhar a falta como algo que move o desejo e não como angústia; 

Descobrir mais sobre mim - meus interesses, estilo, concepções de mundo (*estrelinha para o posicionamento político);

Lembrar que posso aprender; 

Ser mais adulta - me responsabilizar pela minha vida e não culpabilizar os outros; resolver meus próprios problemas. 


Social 

Ter mais tempo de qualidade com a minha família; 

Cultivar minhas amizades próximas; 

Ter o máximo de experiências amorosas que eu puder até encontrar uma pessoa que queria compartilhar a vida comigo;

Comemorar datas significativas durante o ano, criando tradições (mesmo que solitária); 

Fazer minha própria festa de final de ano; 

Ir na parada LGBTQIA+ e me orgulhar. 


Espiritual

Me dedicar aos ministérios que sou líder (Santa Cecília e Pastorinhos); 

Pastorear ovelhas que Jesus me confiar; 

Seguir com o Terço do Instituto Zoé e orar intencionalmente para direcionamentos sobre o projeto;

Fazer acampamento Sênior; 

Retomar 5 pedrinhas: missa diária, terço diário, estudo bíblico diário, jejum semanal e confissão mensal.


Saúde 

Fazer um exercício físico, esporte ou academia (dança / skate / luta / natação / qualquer coisa); 

Comer mais saudável (tentar ter pelo menos bons café da manhã e almoço todos os dias). 


Lazer 

Participar com mais frequência de atividades culturais: cinema, teatro, palestras, shows; 

Usar menos redes sociais;

Ler pelo menos um livro de ficção por mês; 

Planejar viagens: São Paulo (julho) & Argentina (janeiro);

Aprender a costurar.


Financeiro 

Organizar com clareza o dinheiro que entra e que sai; 

Financiar uma moto;


Estudos

Conciliar melhor faculdade e trabalho; 

Estudar para a prova de mestrado; 

Continuar com GEPUL e propor grupo de estudos de Literatura em Espanhol;

Dedicar tempo para o projeto do Instituto Zoé; 

Não perder de vista: pós na ESPE, aulas de tradução no ibilce e prova DELE.  


Trabalho

Ter postura equilibrada e constante na escola; 

Ser mais criativa, me desafiar a me reinventar e replanejar; 

Reconhecer meu esforço; 

Aproveitar o encontro diário com meus alunos e pacientes;

Ter mais pacientes; 

Ter um olhar transformador na minha realidade, não me deixar abalar por questões desanimadoras que são estruturais da educação; 

Trabalhar com tradução freelancer;

Ampliar meu público de música em casamento; 

Não perder de vista o interesse em trabalhar: com latim; como formadora SESI; no SENAC ou no SESC. 

sábado, 2 de novembro de 2024

Tempo de ver

Na minha última sessão de análise, percebi que sou a única pessoa que vê minha história pessoal por inteiro, de modo linear. Não estou deixando de lado as falhas da memória ou as impressões subjetivas de mundo que todos temos (e com as quais trabalho a partir da psicanálise), mas notei que sou a única pessoa que pode acessar, caso queira, de modo diteto, minha história inteira, porque, afinal, foi eu quem vivi. Outra pessoa só pode acessar se eu escolher compartilhar com ela. E se ela escolher saber. 


Perceber isso me fez sentir uma profunda solidão. 


Antigamente eu costumava me sentir segura com essa solidão, quando eu era a única a saber algo sobre mim. Parecia que só assim eu podia existir da minha forma mais crua. Eu tinha medo que me vissem e acho que isso me fazia emocionalmente indisponível. 


Mesmo assim, entendo agora que, no fundo, eu sempre quis que alguém me visse. Pelo menos em parte. E que, pouco a pouco, fosse aprendendo cada vez mais a ver. 

Mas entre alguém me ver e ir embora e ninguém nunca me ver, eu prefiro não me mostrar pra ninguém. 


Talvez seja por isso que pessoas arrogantes me atraem tanto. 


Ou pessoas também emocionalmente indisponíveis. 


Tentei me mostrar no meu último relacionamento, mas não houve interesse por parte do meu ex namorado de me ver. Também não há interesse dos meus pais em me ver. Não há interesse de ninguém em me ver. 


Saber disso me fez chorar. 


Também gostaria de ver alguém, mas as pessoas não querem se mostrar. As que querem, só estão buscando plateia, não conexão. 


Faço análise há 11 anos e, pode ser que, pra algumas pessoas, eu não tenha crescido nada. Mas isso é porque elas não se dão ao trabalho de me ver. Eu vejo o quanto eu cresci. 


Percebo, enquanto escrevo aqui no mercado esperando a minha senha do açougue ser chamada, que eu não deveria mais me mostrar. 

Entrei no tinder de novo, recentemente. Fui de "Ainda não sei" pra "Nada serio, mas depende". Depois pra "Algo sério, mas vamos ver". E agora, finalmente, pra só "Algo casual". 








quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Alguém (A lista atualizada)

Tome a iniciativa

Esteja comigo porque quer, que eu não precise mendigar amor

Que eu seja a prioridade

Nunca canse de demonstrar o seu amor e de me amar 

Fique do meu lado quando as coisas forem difíceis 

Goste de mim pelo que eu sou, não pela ideia que tem de mim

Com quem eu possa conversar sobre tudo e não acabe o assunto 

Empolgado comigo, com a nossa relação, com o mundo 

Leve, que seja maleável com coisas que eu não sou e paciente pra me acolher

Engraçadinho 

Saiba me alcançar e seja cauteloso com meus gatilhos 

Respeite meu espaço mas saiba quando me invadir

Eu admire genuinamente

Tímido, mas que não seja tchongo mongo

Não seja racional demais 

Com quem eu consiga desfrutar de silêncio confortável

Me acompanhe nos meus compromissos e me inclua nos próprios, que aprecie minha companhia 

Goste de bicho 

Me poupe de estresse, que resolva certos b.o.s antes de chegarem em mim 

Beijo lento 

Goste de dormir de conchinha 

Que tenha moto 

Responsável e trabalhador 

Justo 

Honesto 

Cacheado