domingo, 12 de outubro de 2025

alguém

alguém que coloque a nossa relação em um lugar de segurança emocional. que me escolha. alguém cauteloso, que trate meus processos com carinho, que respeite os tempos de sustentação de cada circunstância, que queira caminhar ao meu lado, contemplar minhas descobertas.

alguém leve. que saiba construir um cotidiano divertido e agradável. alguém que tenha boa relação com as pessoas sem deixar de se mostrar. alguém que tenha um sorriso que me faça querer sorrir. 

alguém com a pele macia, que goste de toque físico. alguém com quem eu possa ficar de mãos dadas.

alguém detalhista. que me perceba. que enxergue meus detalhes, que aprenda a ler as minhas ações para além do que eu digo. alguém que se conecte tanto comigo que a gente se entenda por olhar. 

alguém parceiro, que divida as responsabilidades de vida comigo, por exemplo os cuidados da casa. alguém que me ame por ações, que queira fazer o melhor por mim pra que as duas tenham para si o melhor (eu por ela e ela por mim).

alguém que acolha minhas estações 

alguém sensível, que saiba dar importância pra subjetividade. 

alguém que entenda o diálogo respeitoso como base de uma relação. que queira construir algo comigo, dizendo o que pensa e sente.  

alguém que se conecte comigo de modo cotidiano. "que responda meu bom dia ao acordar", que me dê bom dia ao acordar.

alguém que se disponha a conhecer meus interesses e me acompanhar em compromissos que são importantes pra mim. alguém que ame sua família, que queira conhecer e amar a minha ainda que existam muitas dificuldades.

alguém com quem eu consiga ser eu mesma e me sinta confortável. que respeite meu ritmo. 

alguém que não desista de nós. que vá atrás de mim quando eu fugir. 

alguém que respeite meu espaço e saiba quando me invadir. 

alguém que conheça meus defeitos e não use eles contra mim. que use meus defeitos pra me amar através deles. 

alguém que esteja ao meu lado em momentos de crise. 

alguém que conheça meus medos, mas também meus sonhos. 

alguém que queira ficar. 

cacheada. 

que não seja racional demais, que tenha uma percepção de mundo mais aberta. 

que dirija moto 

alguém que se deixe cuidar por mim. que queira contar comigo. 


domingo, 5 de outubro de 2025

voz

eu amo sendo a voz que harmoniza, não a que traça a melodia. 

eu amo mais de noite, que de dia.

eu amo sendo aquela que constrói o ninho pra onde você pode voltar.

eu amo te vendo voar.

eu amo olhando através de janelas, pelas lentes dos meus óculos, pelos meus olhos. 

eu amo um amor platônico, hedonista, estóico.

eu amo no espaço entre eu e você, que sempre preencho com uma bobeira. 

eu amo costurando palavras, torcendo pra ser pra vida inteira. 

eu amo nas brechas, nas beiras 

eu amo em terra firme ou em cachoeiras,

eu amo tímida, medrosa 

eu amo sem estrutura, mas cautelosa. 

não preciso que minha forma de amar seja validada. 

o amor por si só é estrada. 

andar quem quer, ouve quem quer, escolhe quem quer. 

quer? 



segunda-feira, 1 de setembro de 2025

animais

nasci com espírito de águia: pra ter um parceiro único por toda a vida. pra construir enormes e complexos ninhos que podem ser usados por anos a fio. pra ser leal até depois da morte.

mesmo assim, atualmente, ajo como um polvo. solitário, sempre escondido em tocas no fundo do mar. buscando estratégias criativas pra se alimentar e se mover. sempre em estado de alerta. usando seus vários tentáculos pra diversas tarefas que nem sempre envolvem algo produtivo. 

espero que alguém insista em mim. que veja meu espírito de águia e queira ficar. que não evoque minha versão marinha, cheia de tentáculos. 

alguém pra eu chamar de meu e tudo ok 

alguém que deixe o dia leve ao sorrir 

que saiba ouvir o que eu não digo 

alguém que tire o prato depois de almoçar 

que tenha o dom de ler o meu olhar 

minhas quatro estações durante o mês 

alguém sensível que lide bem com discussões 

que responda meu bom dia ao acordar 

que aceite ser da roda do violão 

alguém que toque minha bolha devagar 

que saiba me alcançar quando eu fugir 

alguém que seja cauteloso ao caminhar 

que respeite meu espaço e saiba quando me invadir

que esteja ao meu lado quando eu cair 

alguém que seja parceiro de vida 

alguém que conheça os meus mais profundo medos 

que conheça as manias e os segredos 

e mesmo longe de certezas queira ficar 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Carta aberta ao sol

Recentemente, tenho pensado em como as palavras se banalizaram pra mim por eu não saber fazer um bom uso delas. Sinto que, por vezes, elas me faltam e aí elas perdem o sentido de existência na minha enunciação. Na minha intimidade, quando as palavras faltam, é um alívio, pois o silêncio me deixa nu diante de mim mesmo. As vezes, me alieno em outros que falam através de telas, pois meu silêncio fala muito comigo, de modo cru, e às vezes, eu não quero ouvir o que ele tem pra falar - o que é uma grande besteira. 


Ultimamente, tenho me perguntado, com frequência, como oferecer ao outro um silêncio cru que seja ponte, não muro. Não sei a resposta ainda e quero encontrá-la desesperadamente. Achei (e ainda acho uma vez ou outra), que eu deveria trabalhar na minha oratória e na fundamentação teórica dos meus posicionamentos e pensamentos, mas sinto que tem algo bastante relevante, que eu não sei o quê é, que me impede de fazer isso numa espécie de resistência rebelde. 


Acho que na verdade eu sei do que se trata: é o discurso furado. As palavras sempre vão ser insuficientes pra explicar alguma coisa. é claro que isso não quer dizer que eu não deva realmente me movimentar para lapidar meu uso delas, mas tenho elaborado que talvez eu não consiga levar tão a sério a retórica, ainda que saiba da grande potência dela, porque eu sigo apostando em outros tipos de comunicação. E isso é tão abstrato e inexplicável, mas ao mesmo tempo tão eu, seja lá que nome tiver esse eu. 


Em 2016 escrevi um textos sobre uma trilha de sóis - um texto muito chato, longo, prolixo, sem o menor senso de síntese, mas que quis ser escrito. Uma impressão de mundo que quis ser materializada em palavras.


Lembro que, naquele contexto, a palavra "sol" me afetava muito e eu gostava de como ela aparecia nas músicas que elenquei, muito mais do que qualquer construção metafórica que fiz. Atualmente, sinto que estou habitando uma cidade psíquica em que tudo é noite e que a escuridão domina todos os cantos dela. 


Hoje, o sol resolveu me alcançar no meio da noite. Pelo psiquíco, mas também pelo material. 


Eu dirigia por uma estrada limpa e infinita. A lua iluminava a terra. Eu conseguia ver umas sombras de árvores e placas através de sua luz. Essa mesma experiência se repetiu três vezes: dirigir à luz da lua. Acompanhado. E sozinho. 


Eis que do infinito uma luz brilhante ameacou aparecer. Apenas seus raios se manifestaram. O que duraria poucos segundos, parecem segundos infinitos, tal qual aquela estrada. Os raios são luminosos, como a minha metamorfose sempre quis ser. Mas eu moro neles e não queria. Eu queria morar no sol. 


Penso no quanto me angustia que a luz não chegue nunca, assim como minhas palavras não chegam às pessoas que eu amo. Penso na angustia de me contentar com raios de sol, os que saem de mim e os que me são oferecidos através da resistência. 


Confiar é difícil, pois a traição dói. Mas é necessário para alcançar a lealdade. Consigo mesmo. Com o outro.


O farol finalmente surge e sua luz é muito forte, a ponto de quase me impedir de ver a estrada e os outros objetos. Ele é bruto, muito selvagem. Ele é minha nudez íntima no meu silêncio particular. Ele me rasga, e eu o odeio. Mas eu o desejo. 


Eu gosto muito da estrada pouco iluminada, das sombras que a lua me permite ver com sua luz. Mas essa luz não é suficiente. Os raios luminosos não são suficientes. Eu sou sol. Quero brilhar. 


O calor do sol é essencial para os seres humanos, mas só é suportável pois ficamos a uma distância segura dele. Caso contrário, morreríamos queimados. Eu sinto necessidade de expressar o calor que me consome e não quero mais guardá-lo por puro medo de ofuscar olhos despreparados ou de queimar quem chegue muito perto.


Como oferecer meu calor sem ofuscar? Sem ferir? É melhor uma personalidade opaca e insossa?


Anseio por matar e morrer no calor, por me consumir e me deixar ser consumido pelo outro, por expurgar virtudes e cultuar pecados. 


Como me contentar com pouco?

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Carta aberta à lua

 faz tempo que eu não escrevo aqui - e tantas coisas mudaram. eu me dei um novo nome, bernardo, que nem sei mais se é meu. eu escolhi esse nome porque tem quase as mesmas letras de beatriz, mas tem letras diferentes também, o que significa que ainda sigo sendo eu, mas a partir de outras configurações.


inesperadamente, conheci alguém que virou meu mundinho de cabeça pra baixo. você. um satélite natural.

simplesmente precisava desse encontro. sempre tão preso e paralisado nos movimentos de agradar, e, de repente, sou confrontado a me expor. tenho medo de me mostrar e ser só um maluco intenso e sem noção. provavelmente seria mesmo. tenho medo do discurso furado que sei que me define e inveja de pessoas como você que em sua vivem em um discurso sem furos, com coragem e ingenuidade.

nunca quis alguém que me instigasse a ser melhor. sempre vi isso como uma pressão, uma crítica. mas o timing de te conhecer foi perfeito, consegui virar uma chave que eu nem imaginava que eu tinha nas minhas mãos. você me faz melhor.

beatriz significa aquela que faz os outros felizes. bernardo significa urso. recentemente, conheci um urso chamado "urso da lua", pois todos da sua espécie tem uma mancha estampada no peito que lembra uma lua.

acho engraçado você odiar homens, e fazer emergir em mim o mais autêntico traço de bernardo: o urso. um bicho protetor, bastante selvagem, não monogâmico.

te amo, lua.

como beatriz, porque quero te ver feliz; como bernardo, porque te carrego no peito. 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Espelho p. 2

não estou mais forte emocionalmente. sigo na vibe da derrota. mas sinto que preciso dessa lista.


"meus dez maiores defeitos: uma lista que pode me ajudar muito ou me levar mais ainda pro buraco"

1- medo. de tudo o que me exponha, do que possa me fazer ser visto. de errar, de tentar coisas novas. ele medo se divide em mais dois muito doídos e difíceis de lidar pra mim: ciúmes (me sinto facilmente ameaçado por outras pessoas, com medo de perder meu lugar) e covardia (medo de agir como desejo agir). dentro do medo também tem a comparação com os outros. me comparo de todas as formas, me sinto inferior de várias maneiras.

2- ressentimento. guardo muita mágoa, não consigo deixar o passado pra trás.

3- rebeldia. sou do contra demais porque preciso me destacar de algum modo. tem muita gente que é hater meu.

4- egoísmo. para me proteger, sempre me coloco em primeiro lugar.

5- teimosia. tenho dificuldade de processar outros pontos de vista porque isso me faz perder o controle sobre meus próprios mecanismos.

6- intensidade, impulsividade, reatividade. não sei lidar muito bem com as minhas emoções. quando algo me afeta, sou bastante sem noção.

7- intimidação. tento controlar as pessoas ao meu redor. faço com que elas tenham medo de mim pra que elas fiquem ao meu lado.

8- sou muito crítico comigo de modo que me paralisa e com os outros de modo que assusta e afasta.

9- dependencia emocional e necessidade de aprovação dos outros. quero muito ser amado e não acredito que alguém possa me amar. quando essa raridade acontece, normalmente fico com dependência emocional na pessoa. também preciso, constantemente, de aprovação dos outros.

10- vítimista. as vezes acho que tudo acontece apenas comigo. quero sempre ir pelo caminho mais fácil. 

domingo, 8 de junho de 2025

Espelho

atualmente tenho enfrentado algumas dificuldades em vários âmbitos da minha vida. minha chefe resolveu pegar no meu pé, o que me deixa extremamente inseguro, chateado e irritado; tenho que entregar o relatório da minha pesquisa daqui há uns 20 dias e deveria ter começado em fevereiro mas nem comecei; meu término de relacionamento já vai fazer um ano, meu ex já está com outra e eu ainda não superei; meu outro ex que ia largar a namorada tóxica pra ficar comigo segue com ela; eu engatilhei com uma menina super gente boa que conheci recentemente e poderia super ser uma amizade pra vida toda; e, por fim, sigo endividado. 

sendo assim, sinto que estou sob muita pressão e que isso vem abalando minha auto-estima. 

tive a ideia de tentar listar minhas principais qualidades neste post para me lembrar delas. então lá vai:


"dez qualidades que vejo em mim: uma tentativa de não sucumbir à pressão da vida adulta" 


1 sociável e com bom repertório sócio cultural - consigo me relacionar bem em diversos contextos, conversar sobre vários assuntos, fazer as pessoas se sentirem confortáveis e seguras


2 carinhoso - gosto de demonstrar o que sinto para as pessoas que amo


3 sensivel - consigo perceber com facilidade como as pessoas se sentem (apesar de não saber muito o que fazer com isso)


4 boa autopercepção - consigo me perceber com certa facilidade e de buscar recursos para elaborar minhas demandas


5 generoso - gosto de compartilhar a vida, tudo o que tenho com as pessoas que eu amo


6 cuidadoso e zeloso - sou detalhista com pessoas que eu amo, gosto de cuidar do que é meu


7 comprometido e disciplinado - cumpro com meus compromissos, sustento as consequências das minhas decisões, faço o que precisa ser feito


8 olhar estético apurado - reparo no simples do cotidiano e me deleito com isso


9 constância - não desisto fácil do que me proponho a fazer. apesar de não sentir que cresço tanto quanto eu gostaria, estou sempre seguindo em frente, tentando outra e outra vez.


10 capacidade de dar espaço - respeito o tempo das pessoas pra viver seus processos; também respeito meu próprio tempo. 


nossa, foi uma lista difícil. tive que apelar para o chat gpt. mas ele me ajudou muito listando várias qualidades que eu não tinha pensado ainda. me ajudou bastante também enxergar o que preciso melhorar porque qualidades que eu achava que eu tinha, eu não estou entregando o quanto deveria. talvez eu faça uma lista de defeitos também em algum momento menos sensível, para eu conseguir acessar com frequência e tentar melhorar. 


terça-feira, 18 de março de 2025

Vi/Be

 Você é minha virada de página

Você é meu ano novo

Seus beijos são o mergulho no oceano, de novo e de novo

que domam as ondas mais altas do medo

ondas que me perturbam logo cedo

Seu toque é a linha que escreve o amor em letra cursiva no meu coração 

Com você eu sou minha melhor versão

Igreja, templo santo, assembleia de fiéis

Minha fidelidade é a ti

Minha adoração é por ti 

Minha vulnerabilidade é pra ti

Minha vida é em ti

Sua ausência é o mesmo que parar de respirar. 

Te amo tanto que não cabe em mim, tenho constantemente que me reinventar 

Te amo com meu corpo, com meu coração

Te amo com a minha cabeça, na minha ficção 

Te amo como Ana, como Bia, como Ab, como Triz.

Te amo como Bernardo, te amar me faz feliz.

Te amo quando acordo e quando durmo.

Te amo no claro, no escuro.

Te amo com medo, e quando estou cheio de coragem

Te amo calmo e te amo selvagem

Te amo no campo ou na cidade 

Te amo quando fica e quando está de passagem

Teu amor é meu norte, meu sul, meu leste e oeste

Te amo enquanto nosso amor padece 

Te amo quando o sol brilha

Amo pensar na nossa família 

Te amo triste, te amo contente 

Te amo sozinho e cercado de gente 

Te amo todo, te amo tanto  

Te amo profano, te amo santo

Meu céu é você, meu amor. 

Meu paraíso coletivo, meu inferno particular  

Meu luto, minha luta. 

Reizinho manhoso. 

Se vens as 4h da tarde, desde as 3h estarei te esperando. 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Essa coisa bem chatonilda que vem de noite e parece um espírito obsessor

Ultimamente eu tenho sido feliz. 

Eu encontrei uma maneira gostosa de organizar a minha rotina que me faz enxergar os progressos que eu tenho em cada área da vida. Ela também me ajuda alternar entre atividades que necessariamente precisam ser feitas, atividades do dia a dia e atividades que eu gosto. Eu tenho conseguido ver um filme por semana, por exemplo. E progredir na minha pesquisa. Tenho sido fiel às leituras dos grupos de estudo que participo e também mais pró-ativa com os compromissos dos quais sou líder. 

Me sinto mais segura no ambiente escolar. Acho que é a famosa experiência que a gente adquire fazendo as coisas. Eu tenho mais alunos esse ano e, mesmo assim, sinto que tenho tido um olhar mais amplo da minha sala de aula. Sei mais por onde entrar e no que devo me implicar, o que facilita bastante minha postura como adulto referência e escuta das necessidades deles. 

Atender presencial foi um acerto. Apesar de seguir com os mesmos pacientes de sempre, eu me enxergo muito mais engajada no meu desejo de ser analista. Tenho experimentado os efeitos de uma análise, me parece. Eu me tornei outra pessoa. Precisei fazer o luto de uma Ana Beatriz que estava pendente há algum tempo e agora lido com o desconhecido que é ser essa eu do presente. Que alívio isso. Mês que vem começo a participar das atividades do fórum lacaniano do interior paulista. Essa coisa de se movimentar pra investir na clínica.

Hoje foi aniversário da minha avó, aquela que ainda tá viva. Ela me convidou pra almoçar, assim como convidou toda a família. Eu gosto da minha avó, mas não queria ir. Eu não tenho vontade de interagir com a minha família paterna. Então não fui. Meus pais foram e eu fiquei sozinha em casa. Fazia um tempo que eu não me sentia tão confortável. Eu vi um filme triste, e ele me fez sentir saudade do meu avô, daí eu chorei alto, sem me preocupar se alguém estava ouvindo (não estava, porque não tinha ninguém em casa). Eu também dei banho na Margot com tranquilidade (não fiquei ansiosa pensando que meu pai faria antes de mim, ou que me pressionaria pra fazer, eu fiz porque quis). Minha mãe ficou bem chateada mesmo com a minha ausência, me trouxe dois docinhos da leleninho, mas eu fiquei bem. 

Esse espaço me é tão caro. E há tanto tempo não o tenho. 

Tenho pensado nessas coisas que são minhas. Esse espaço que permite que essas coisas minhas venham à tona. Eu faço muitos movimentos para que esse espaço exista. Eu sai do emprego público que parecia um espaço da minha mãe; competia com o Iuri porque estávamos no mesmo campo profissional; escolho entrar em um fórum onde não conheço ninguém, onde não estão meus amigos; corto laços com a minha prima porque ela beijou dois dos meus melhores amigos, etc etc.

Toda noite quando deito a cabeça no travesseiro, eu sinto um vazio grande. Agora mesmo eu estava rolando o feed do instagram há mais de uma hora antes de vir escrever. Eu tenho sido feliz durante o dia. Eu me sinto bem, vivendo. Eu nunca me senti assim antes, e sei que tem a ver com a análise, com o luto da antiga eu. Eu me dei o direito de ser alguém que tava tentando ser desde sempre. Isso me reconstruiu. Os fragmentos que estavam dispersos foram se unindo, tipo numa constituição imaginária de identidade mesmo (ufa). Eu tenho criado um espaço pra mim. Um espaço de desejo. Mas de noite aparece o outro lado da moeda. Aquilo que eu tenho que bancar porque eu decidi escolher ter um espaço meu. 

Antes, eu costumava colocar minhas confabulações amorosas nesse vazio noturno. E ai, agora, eu meio que nomeei ele. Acho que o sentimento é solidão. Aquela que é constitutiva. Aquela que a psicanálise chama de desamparo estrutural. Antes eu tinha muito medo de olhar pra isso. Mas me veio um insight quando eu percebi que mesmo se alguém estivessem comigo do jeito que eu fantasiava, eu continuaria sozinha. Talvez porque eu tenha vivido isso com o Iuri em outros graus, o de estar só mesmo acompanhada porque éramos duas pessoas que não se conectavam. Mas de alguma maneira eu entendi que mesmo que fosse um encontro muito legal, eu estaria sozinha na vida.  Eu tenho tido uns encontros muito legais comigo mesma na minha rotina e tá tão bonito me ver crescer... eu tenho tido encontros legais com outras pessoas, e nem só no âmbito amoroso, e também é tão bonito de ver minha abertura emocional... mas existe essa coisa que vem de noite, que parece um espírito obsessor (bate na madeira?), que é bem chatonilda. Ninguém pode suprir essa coisa. E por que eu gostaria de suprir ela? Se ela tá ali pra alguma coisa serve. 

Mas assim, eu acho que eu não tenho escolha. Esse negócio de solidão constitutiva é parte da experiência de viver. E meio que eu tô aprendendo a me relacionar com ela. Antes eu afastava, com essa espécie de tamponamento. Agora fizemos amizade, o contato com ela não me dá mais crise de pânico e ansiedade. 

Eu acho que essa amizade tem um pouco da amizade que eu tenho com Deus. Agora que eu convivo com esse infamiliar, eu consigo pensar coisas que eu não conseguia antes. 

Vou fazer uma lista: 

1- Não preciso mais fingir que meus avós estão vivos e que eu posso visitá-los a qualquer momento, mesmo que eu saiba que eles morreram... pra onde eles foram? não sei e não tenho mais a necessidade de saber;

2- Consigo sentir muitas coisas pelo Iuri, tipo arrependimento por não ter percebido e dito pra ele que eu apreciava a companhia dele pra ver filmes e como eu gostava do que ele via em mim que ninguém mais via muito menos eu e raiva também por ele não amar nem ter paciência com a minha versão do passado que eu precisava matar delicadamente e fazer meu luto, e carinho por poder ter a chance de encontrar com ele mesmo com nossas imaturidades, e também pensar em nós e em mim antes e depois dele; e muitos outros sentimentos misturados;

3- Posso enxergar e ruminar o Ber que habita em mim; 

4- Me alegro por não caber mais em lugares que antes quis tanto caber; 

5- Sustento o desagrado da minha família e também quem escolhe ir e vir(e quando digito quem, eu tenho um quem bastante específico em mente); 

6- Começo a aprender a escutar. 

Eu não gosto do número 6, mas eu não consigo pensar em mais nenhum tópico que eu gostaria de acrescentar na minha lista. 

E tudo bem. 

Porque ultimamente eu tenho sido feliz. 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Feliz ano novo! (Afinal, não sou demissexual: uma coisa meio fluxo de consciência a la Clarice Lispector)

Da última vez que eu estive por aqui eu choraminguei horrores, meu deus. Da última vez não, das últimas vezes. Ainda bem que o ano ainda não acabou e eu posso me retratar. E ainda bem que graças a deus ninguém lê essa merda, apenas eu. Mas então, eu tava errada. O B. apareceu de novo (e sumiu de novo pra minha infelicidade POIS ELE ME ODEIA mas isso não vem ao caso). Não foi a última vez que eu vi ele aquela vez. Talvez essa seja a última vez. Não sei. Não sei o que passa na cabeça dele. Não sei nem o que passa na minha direito. Mas eu não estava errada só nisso. 
Eu descobri que não precisa ter afeto nenhum pra transar. E eu não sou demissexual. Era só medo e uma porrada de homem péssimo com quem eu saio (pois eu ainda não alcancei o patamar supremo de chegar em mulher). Antes eu caia muito no papo de homem garanhão sabe? Nossa como ele manja de sexo e eu não manjo. Mas olha, passei por tantos dates que me provaram o contrário nesses últimos meses que eu tô realmente impressionada. Eu ficava pensando que TINHA ALGO DE ERRADO COMIGO, eu que sempre arrasei no modo solo, quando um cara fazia o trabalho dele. Mas na real o problema era pegar gente virgem. Ou sem empatia. Mas em sua totalidade, virgens. 
Eu tenho mais preconceito com gente virgem que com crente agora, eu acho. Tudo o que eu precisava era que um abençoado fizesse o mínimo, umas preliminares. Mas como ele ia saber? Como eu ia saber?
"Opa, opa, vamos estar indo mais devagar por favor? Está doendo, sai de cima de mim". Isso foi o que nosso herói ouviu por não ter ouvido sobre a necessidade de umas preliminares antes. Como é que crente casa virgem pelo amor do senhor.  EU DESCOBRI A RODA mesmo depois de ser brutalmente exposta à Dora Figueiredo e Cátia Damasceno. EU DESCOBRI AS PRELIMINARES!!! EUUUU!!!! Depois de vários caras virgens ou pseudo-virgens eu DESCOBRI O SEGREDOOO!! Parça, olha que simples: se algo não entra é porque algo lá embaixo não está sendo facilitado para entrar. Não porque não é possível que entre. EU NÃO SERIA O ÚNICO SER HUMANO QUE DEUS FEZ SEM QUE SEJA POSSÍVEL ENTRAR E SAIR ALGO LÁ EMBAIXO, faça-me o favor, Ana Beatriz. Se eu preciso que algo seja facilitado, eu preciso de um estímulo. A informação tava lá, mas o conhecimento não. É o bug do medo / pânico / trava social. O diálogo ajudou? SIM, MAS ANTES EU TIVE QUE ENTENDER O QUE ERAM PRELIMINARES. NA. FUCKING. PRÁTICA. NO FUCKING MODO TENTATIVA E ERRO. E muitos erros. 
O que fez com que eu conseguisse finalmente ter esse insight burro? Um parceiro maravilhoso que, apesar de meio afobado, me deixou confortabilíssima pra MANDAR NELE e ser eu mesma. Obrigada pelo seu autocontrole, respeito e paciência, sr. peixinho (mas eu gostaria que vc não aparecesse do nada só uma vez por mês, de preferência morasse na beliche de cima do meu quarto). Perceber que eu seria ouvida e validada fez eu me sentir confortável para TRANSAR. Antes eu não transava porque eu nem EXISTIA. Eu só não SABIA como existir ali naquele lugar. E NEM OS CARA pelo amor de deus. 

Agora eu me sinto bem livre. 

E realizada. 

Pois eu sei transar 

(27 anos, caham. Demorei mas consegui) 

(estou bem orgulhosa)

PS. Ainda que eu tenha constatado felizmente que eu não sou demissexual, sigo sendo bastante monogâmica e uma gadinho do caralho que adorou o afeto que lhe foi oferecido. Sendo assim, adoraria seguir ditando (sim, pois sou uma ditadora) o que um certo homem tem que fazer pra me fazer feliz e por consequência ser feliz também (até ele aprender exatamente o que me faz feliz e fazer isso automaticamente será que algum homem faz isso porque meus pais vivem comigo há 27 anos na mesma casa me escutando pedir o mesmo hot dog misto com catupiry e ainda erram o lanche quando precisam pedir sozinhos eu definitivamente não quero um parceiro permanente fixo sei lá o que que não saiba comprar um hot dog misto com catupiry pra mim só que no sexo. e fora dele também, eu não gosto de x salada etc). Então, se a outra parte quisesse me pedir em namoro, casamento e ter vários filhos e pets comigo eu não negaria. Eu provavelmente precisaria de um tempo pra superar meus surtos com relação a estar em um relacionamento que o Iuri deixou mas eu sei que eu superaria bem pois estou conseguindo superar coisas que antes eu achava que eram insuperáveis tipo transar de boas. Mas, se para a minha tristeza e infelicidade se a outra parte não quiser aprender todos os jeitos que eu gosto de transar enquanto eu mesmo aprendo e eu aprendo o que ela gosta e a gente aprende junto e é muito feliz como dois coelhos no cio, eu sei que serei capaz de seguir procurando um parceiro (ou parceira) tão bom quanto ele. 

Pois eu sei transar. 

Feliz ano novo!!!