segunda-feira, 26 de julho de 2021

Narradora


Uma das minhas coisas preferidas entre os casais apaixonados é quando acontece de eles falarem uma mesma coisa junto, aleatoriamente. Assim como quando pego alguma parte admirando a outra por algum detalhe qualquer ou a cena de um carinho de dedo. Também outras coisinhas mais. São esses pequenos sinais que me denunciam para mim mesma quando eu gosto ou não de alguém.
Se você me conhece em profundidade, sabe que eu não sou a melhor pessoa do mundo em identificar meus sentimentos, muito menos em colocar eles em palavras. Que demoro bastante pra viver meus processos. E que me assusto fácil. Mas provavelmente você não sabe nada disso porque estamos na superfície, aquela em que eu correspondo à demanda e mando muito bem. 
Recentemente eu tenho pensado muito a respeito das minhas perspectivas amorosas. Eu acho que elas estão enroscadas no mesmo nó que empaca minha vida financeira e que é bastante coerente com a moção da maturidade e do espaço. Na missa dessa semana, o padre lembrou da dignidade que Deus dá ao ser humano quando o convida pra comer com ele. A última ceia é a ceia de todos os dias. O padre me lembrou que eu tenho um lugar de dignidade e que só posso ser humana e fazer parte dos planos de Deus se ocupo esse lugar. E eu não tenho ocupado. Minha alma tem se abatido e entregado os pontos. Viver é um risco, e em qual aspecto da vida vale a pena se arriscar? Acho que antes de mais nada, por mim.
Antes, achava que não tinha espaço na vida dos outros, mas, na verdade, sou eu que não o ocupo. 
Ontem cantei a oração pela familia pro Gabriel e pra Amanda. De novo cantando pra eles, na minha igreja. Não sinto que seríamos uma boa dupla, eu e ele, e verdadeiramente me alegro por eles, principalmente por ela. Mas algo continua batendo em mim. Ainda continuo vendo o pedido de namoro exatamente no lugar em que eu queria ser pedida em namoro. Com os olhares. E as palavras conjuntas. E os carinhos de dedo. E me sentindo inexistente.
Hoje é aniversário da Paula, e por causa dela eu ganhei um sorvete na pracinha do mc damha. Eu disse que estava triste. Ela disse que a vida era difícil mesmo. Acho que entendi dessa vez. Eu fico ignorando isso ha muitos anos, deixando com que decidam por mim, me deixando ser o que querem que eu seja. Nisso eu perdi o João, o Gabriel e o Vi. E muitas outras pessoas, situações e momentos. Então ela disse que algo em mim mudou há algum tempo, mas que não percebi. A inocência. Tinha perdido também. Mas isso não significava deixar de sonhar com o amor. Aquele por quem me entregarei. Pelo contrário. Eu tinha espaço e estava crescendo. Eu não era mais a menina que deixava o Gabriel ir, mesmo ainda sendo a mulher que vivia como ela. 

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