O menor planeta de todos. É assim que o Pequeno Príncipe nos apresenta o 5o planeta. E é também a maneira com que encerra o capítulo. O homem que encontrou estava executando, sem cessar, uma só tarefa: acendia e apagava, em um curto espaço de tempo, seu lampião. Apesar de achar uma prática meio absurda (acho legal que o Princepezinho usa a palavra "absurda", uma das minhas palavras preferidas porque o significante leva um dos meus apelidos de personalidade e o significado vai muito de encontro com a Ab), o Pequeno Príncipe reflete que ela pode ter mais sentido que as práticas dos habitantes dos planetas anteriores - "acender a luz é dar vida à alguém, e apagar é dar descanso". E aí quando chega para confirmar com o homem, descobre que a tarefa é realizada apenas porque está no regulamento. E o homem, diferente do nobre olhar que tem o Pequeno Príncipe, enxerga a tarefa como uma tarefa terrível. Fico pensando em como, se não ficamos atentos, se não enraizamos nossos objetivos e identidade, esvaziamos nossa rotina de sentido, achando que todo dia é mais do mesmo e perdendo o propósito de vista. Qualquer tarefa se torna horrível quando não faz mais sentido. O que mais me intriga nesse raciocínio é a resposta que o homem dá para o pequeno príncipe, quando ele diz que não entendeu, que não sabia do que o regulamento se tratava: "o regulamento é o regulamento; é para seguir, não para compreender". E então penso: será que ele nunca teve curiosidade sobre o por que seguir o regulamento? ainda me surpreende pensar que tem gente que simplesmente aceita coisas, quando eu gasto realmente muito tempo questionando o regulamento (vide "a cartilha é pra viver, não é pra entender"). Como alguém se contenta em não buscar? Não precisa entender, dá pra viver sem entender (a maior parte do tempo vivo assim)... mas não desisto de entender. Desistir é morrer, mesmo viva.
O homem conta que nem sempre o regulamento foi tão difícil de viver. E que antes conseguia dormir e acordar, porque o tempo era mais espaçado... mas aí o planeta começou a girar cada vez mais rápido e como consequência ele não podia mais dormir. O planeta mudou e o regulamento não... isso é tão familiar pra mim num certo estilo de vida, numa certa instituição... pra que algo seja permanente, é preciso que mude (faz sentido?). A consequência de uma mudança sem a outra foi uma escravidão: o homem estava preso... pela tarefa e pelo tempo. Me chama muita atenção que o homem não questiona a tarefa quando o tempo muda a estrutura inicial. Por que? Foi a primeira coisa que eu fiz, rs. Desesperadamente. E o fato de ele não encontrar sentido na tarefa por si só faz que ele não entenda que quando as circunstâncias mudaram, ele tinha liberdade para parar de executar a tarefa (ou seguir executando, ou adaptá-la à nova realidade)
O princepezinho amou aquele acendedor tão fiel. Eu acho que também o amo. Um cego ou um homem de fé? O habitante desse planeta não era mau, era só preso na lei. Será que alguém já tinha contado pra ele que ele tinha outra escolha? Bom, se não tinham feito, o Pequeno Príncipe tratou de fazer. "Se você andar uns passos pra trás sempre que for a hora de apagar o lampião, você consegue ficar sempre no sol e talvez descansar". Mas o homem só justificou: "eu gosto de dormir, essa sugestão não serve". E o Pequeno Príncipe concorda, sem relutar. Acho que eu não relutaria também. Ao que parecia, o homem não queria dar uns passos pra trás. Se uma coisa é um dogma, dificilmente vai mudar com uma ou duas perguntas. A menos que me paguem pra isso, claro.
O Pequeno Príncipe conclui que, mesmo assim, aquele homem é o único homem de todos os planetas que não lhe parece ridículo. Por que? Porque era o único que se ocupava com outra coisa além dele próprio. O único com quem poderia ter feito amizade. Mas o planeta era pequeno demais pra caber outra pessoa... é mais difícil que parece encontrar um amigo, por mais que os requisitos aparentemente sejam ridículos de fáceis: olhar para o outro e ter espaço para que o outro o visite.
https://www.youtube.com/watch?v=rJBcIlhPuMI
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