"Era sempre pelo carneiro", é assim que o piloto abre esse capítulo. O bichinho significa na obra toda, um movimento de volta feito pelo piloto, de retorno à essência, mesmo que contrariado, a partir da insistência do pequeno príncipe que quer porque quer fazê-lo olhar para o que ele não quer olhar. O carneiro significa a brecha que o piloto precisa para contatar sua sensibilidade de ser humano, que foi esquecendo conforme crescia, empurrando para baixo do tapete. O carneiro é o primeiro desenho que faz, por pedido do pequeno príncipe. O carneiro é a representação de um desejo adormecido que sai, se derrama através do lápis gasto revelando um menino interior. "Um carneiro come tudo o que encontra": a essência é voraz, tanto positivamente quanto negativamente. Quando vem a tona pode trazer decepção e fazer com que o indivíduo se tranque em si mesmo ou pode realizar todo o potencial de um indivíduo fazendo com que ele se torne profundamente feliz.
O piloto passa grande parte do capítulo trabalhando no conserto do avião, tentando desatarraxar um parafuso muito apertado, enquanto se sente profundamente incomodado pelo que julga ser apenas perguntas bobas do pequeno príncipe. Como é que o piloto preferia trabalhar no "avião quebrado" ao dar atenção ao pequeno príncipe? Às vezes, na vida, temos essa mania de olhar para o problema e ignorar a solução. A solução está onde menos imaginamos, talvez em nossas mais profundas questões existenciais, de onde surgiram todos os problemas da superficie... questões que talvez incomodem, hm?... e que por incomodarem, nós nos convencemos a ficar na superfície, a manter o olhar fixo no problema. Mas não dá. Tem aviões quebrados que só podem ser consertados quando refletimos sobre rosas e carneiros.
O pequeno príncipe faz com que o piloto reflita sobre espinhos. Todos temos espinhos psíquicos, alguns tem espinhos visíveis, como as Rosas. Eles não servem mesmo para nada? Por que são "maus"? O piloto parece não se importar, em seu estado de afastamento de si mesmo. Talvez o piloto tivesse um pouco de dificuldade de enxergar seus próprios espinhos, e de aceitar que existiam. Espinhos espetam... será que ele fora espetado pelos próprios espinhos? Ou quem sabe até alguma Rosa convicta de seus espinhos não o tenha espetado antes?
Mas o pequeno príncipe, o menino interior, sabe que espinhos não são maus. Com revolta, o pequeno príncipe lembra o piloto que cada um lida com as dificuldades da vida como pode... espinhos, mecanismos de defesa não são maldade, ou capricho... E então, o piloto entende. O parafuso bem preso estava tornando-o uma pessoa grande, cheia de julgamentos.
O final do capítulo mostra o protagonismo e entendimento do piloto frente ao seu avião quebrado e o pequeno príncipe. Ele muda sua postura: deixa o avião quebrado e suas tentativas frustradas de consertá-lo na marra em segundo plano, e vai embalar o pequeno príncipe, que em seus braços, chora de soluçar.
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