domingo, 6 de agosto de 2017

Eu não quero me esquecer

Abrir o blog depois de tanto tempo foi uma decisão dificil. O que os olhos não veem, o coração não sente, não é mesmo? Sim. Não. O coração sente, mas a gente empurra pra baixo do tapete e recalca a coisa toda. Nossa, nesse último semestre me senti tudo, menos a Ana Beatriz. Sabe, a Ana Beatriz humana que eu costumava ser. A que ia caminhando para a faculdade, observando todos os detalhes simples. A que se encantava com histórias de desconhecidos no ônibus, a que sonhava e refletia sobre situações diversas de olhos bem abertos. A palavra que me vem é qualidade. Meus momentos já não tem qualidade como tinham antes. E antes nem tinham muito - ainda assim, eram mais frequentes. Sinto como se eu tivesse sido sugada de mim mesma aos pouquinhos, por um eu que não tinha consciencia de estar ali. As vezes, a gente quer tanto alcançar alguns objetivos que não compreende a beleza da jornada - e acaba se tornando tudo o que disse que não seria. Depois de quase um ano sem ter férias, pensei que três semanas de solidão e listas seriam tudo o que eu precisava. Me empenhei em planejar meus dias, seguir tudo a risca... Pra que? Não fiz uma coisa nem outra. Não me permiti descansar, fazer nada. E ao mesmo tempo, não me empenhei de verdade em algo que eu gostasse. Me sentia culpada por não querer fazer as atividades que havia planejado - por que eu não ia querer? eram ótimos hobbies! É que eu demorei pra entender que minhas próprias regras estavam me destruindo, fazendo com que eu me estagnasse. A rotina de acordar e necessariamente escrever no meu diário não estava me agregando como eu gostaria, meu terço e orações não eram mais autenticos. Por que? Quando o viver se torna apenas um item a ser riscado de uma lista, deixa de ser viver e passa a ser existir - basicamente desperdício de tempo e esforço.
Quando entrei de férias, eu tinha certeza que o que eu precisava era estar sozinha, que os outros é que não me deixavam descansar, curtir o belo. Mas estava enganada. Todo mundo que assiste Na Natureza Selvagem adora aquela frase "A felicidade deve ser compartilhada". Nunca foi uma das minhas partes preferidas, mas de repente ela parecia fazer todo o sentido.
Foi em uma das minhas últimas tardes que a Amanda me ligou e me chamou pra almoçar. Eu raramente tenho vontade de interagir com as pessoas, mas acabo fazendo isso por toda a carga social. Mas sei lá, a companhia dela me fez um bem muito grande. Um bem que eu já não sentia com outras pessoas, porque há tempos não enxergava outra pessoa além de mim mesma. Aparentemente, era tudo sobre mim. Eu não convivia - não estava mais disposta -, não abaixava, não aprendia, não me entregava. A simplicidade de uma amizade verdadeira, de repente me deu aquele insight de que talvez eu não estivesse vivendo a vida como eu gostaria. Na verdade, talvez eu não estivesse vivendo. Talvez só estivesse perdendo os meus dias... as listas acabavam por me prender e me controlar ao invés de me libertar e conduzir...
Engraçado que comigo, rola uma espécie de delay. As coisas acontecem, depois eu ligo os pontos. Apesar da Amanda ter sido o apse, cada pessoa que se fez presente na minha vida de alguma forma nessas três semanas me despertou para essa realidade. O pessoal do ensino médio, o ministério ruah, o pessoal do Js, do cursinho (e mesmo os amigos da psico, sem rolê), a minha própria familia.
Ainda nas minhas férias de quatro dias, assim que me livrei da necessidade de estar sempre sobre pressão por parte de mim mesma, refleti que toda a questão envolvendo qualidade estava o tempo todo me rondando (desde a minha infância) e eu tentava constantemente me convencer de que a falta dela estava relacionada aos milhares de compromissos que eu impunha para mim mesma. O ponto que eu nunca tinha chego antes - ou talvez apenas não queria admitir que havia chego - era que, na verdade, fazer tantas coisas me dava uma justificativa perfeita para conviver com meus próprios fracassos e escolhas. "Tirei nota vermelha porque eu não tive tempo para estudar", "Não falei com a fulana porque estava fazendo meu trabalho da faculdade", "Não tenho tempo para sentir ou pensar sobre esse sentimento agora porque estou ocupada demais lendo este livro". Nesse último semestre, passei tanto tempo no facebook que poderia apresenta-lo como AACC. E usar o facebook (e muitas outras coisas que faço) como fuga NÃO RETIRA DE MIM O QUE PRECISO ENFRENTAR! APENAS PRORROGA!
Ainda dói, e tudo bem.
É preciso deixar doer... é preciso se comprometer e acolher a dor... é preciso caminhar.
Com isso nao quero dizer que preciso parar de me envolver com causas e grupos, pois, mais do que nunca, sei que preciso de pessoas. Só que é necessario que haja decisão de enfrentamento da minha parte, é necessário que eu aprofunde relações ao invés de partir para as próximas, é necessário que eu escolha ficar antes de querer que alguém escolha por mim. É preciso coragem para ouvir o próprio secreto, tão detonado, tão sujo, tão.. tantas coisas. Minhas feridas, meus medos, meus fracassos... eu não quero ser um porco espinho que espeta os iguais.. ou uma tartaruga que entra dentro da propria concha e fica lá... eu quero mais.. e quero mais no simples...
Por fim, a questão do foco. De todas as minhas atividades, qual era a mais importante para mim? O que eu queria com cada uma delas? Não se trata de deixar de fazer algo, mas de ser constante com uma habilidade em especial. Eu nunca fui boa com escolhas, nunca mesmo. Mas o que era ESSENCIAL? O que estava em mim como algo NECESSÁRIO, quando eu era menor? Escrever. Sempre foi escrever. Diários nasceram de necessidade. Pandora nasceu de necessidade. E o impulsionador do problema é a necessidade. A música, o kumon, os estudos, meu servir... todas as coisas que me compõe PRECISAM vir da necessidade. Se eu precisava tanto escrever, por que eu parei? Porque o medo de não fazer bem foi maior que a necessidade de escrever. Então COMO voltar a escrever? Fazendo todos os dias, SABENDO que fracassarei, SABENDO que haverão dias em que não conseguirei sair de uma simples frase... e tudo bem. Só é necessário não parar. Eu PRECISO PRECISAR de novo da escrita. Eu PRECISO entender o esforço. Não importa quanto tempo demore, apenas continue buscando o precisar. Ao buscar o precisar, o resultado será apenas um detalhe.
Há alguns anos, se alguém contasse para a Ana Beatriz do passado o que ela teria hoje, ela provavelmente se espantaria - mesmo que talvez não ficasse surpresa. Ela conquistou muito - mesmo carregando junto dela a famigerada síndrome do impostor. Mas o que me preocula hoje, nesse momento, é: o que a Ana Beatriz do passado teria achado do que a Ana Beatriz de hoje é?
Sei a resposta e não gosto.
Trabalharei duro para mudá-la.
Desejo que a vida seja leve.

Recapitulando em passagens...
1) "Para tudo há um momento e um tempo debaixo do céu" Ecle 3,1.
2) "Seja forte e corajoso!" Js 1, 9
3) "Jesus viu-os e disse-lhes: Ide, mostrai-vos ao sacerdote. E QUANDO ELES IAM ANDANDO, ficaram curados" Lc 17, 14

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