quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Deixe-mo nos amar..!

Começar esse texto está sendo um desafio. Sinto que meu ritmo de pensamento veio desacelerando consideravelmente nos últimos dias devido a nova forma que estou me permitindo viver. Mas, ainda assim, com a pressão da adaptacao a rotina batendo a minha porta sem muito tato, vez ou outra me pego surtando e refazendo mentalmente a listas de atividades do dia, hora a hora.
Tipo agora.
Mudar é dificil.
E mais difícil ainda é escolher olhar para dentro de si mesmo todos os dias, lembrando a decisão de não se render aos comandos da sua zona de conforto.
Sinto como se minha vida realmente tivesse recomeçado, não sei. Como se um ciclo muito grande tivesse se fechado. E é diferente das outras vezes (e não em intensidade, ou como se todas as outras tivessem sido iguais). Acho que o é diferente dessa vez se trata de razão, não de sentimentis. Eu escolhi de verdade sair da minha mediocridade. Além disso, também é diferente porque decidi que seria na pratica, agir de modo a não deixar que os insights permaneçam apenas na minha cabeça, e sejam tomados por minhas inseguranças internas (TOMA PORRADA LOGO, NÃO EMPACA NÃO! Ainda há muito pra viver). Talvez toda essa vibe passe daqui uns dias, uma semana, um mês.
Mas hoje não.
Hoje eu decidi.
Essa semana, conversei com muita gente  que cruzou o meu caminho. Como na aula de teatro, em um exercício de visualização bem primitivo, apenas deixei que a minha sensibilidade discernisse para mim - e não me entenda mal: sensibilidade, não sentimentalismo. Me surpreendi de tal forma com o meu eu natural... o mal não era a minha tendência, ele só cobria o que era bom, pois havia medo... e ao despojar se do medo, encontrei me em outro mundo.. há realmente um outro mundo por baixo do mundo que a gente cria.. um mundo que a gente ESCOLHE não ver, não sentir, não tocar, não querer... outros mundos...
Jesus, ao sentar com os apóstolos e partir o pão em sua última ceia, dava-se a nós por inteiro. Inclusive a Judas. E dava-se porque contemplava o pai e o sentido da vida... estar em comunhão. Visitar o mundo do outro, morar nele. Esta semana eu descobri que viver por inteiro não é só difícil porque demanda esforço interior de cultivar virtudes e equilibrar vícios. Viver por inteiro é difícil porque não se trata do que eu quero dar ao outro, mas sobre o que o OUTRO precisa receber de mim. É necessario ouvir o outro ANTES de qualquer movimento de feedback - e esse outro fala de TANTAS formas.
Pedro, ao ouvir que seu mestre lavaria seus pés, teve em um primeiro momento, um sentimento de indignidade. Como sou Pedro! Será que depois de tanto tempo andando com Jesus eu não conseguia entender? Deus era tudo porque se fazia nada. Para elevar, ele descia. Pedro precisava descer ao mundo do outro para eleva-lo, e o outro precisava descer ao seu mundo para eleva-lo. Ao lavar os pés de Pedro, Jesus o lembrou que havia sido o primeiro. E sempre o amaria primeiro.
Jon Snow, ao ser privilegiado por receber treinamento no castelo, não entendia que precisava descer aos outros para que se elevassem juntos. Tudo o que fazia era se apegar a ferida de sua própria história, que o seguia como sombra e usar como escudo. Lucio Malfoy, escondia se em sua própria alienação de controle, satisfação e poder, tão tão vazia, ao não enxergar o mundo de Dobby.
As pessoas que cruzei me demandaram muito despreendimento e verdade. E os sentimentos se moviam, muitas vezes confusos e não nomeados, e era dificil me manter firme percebendo o quanto eu estava sendo lapidada me envolvendo nas situações. A dor do parto é necessária para que haja vida. Quando damos tudo, precisamos que Jesus lave nossos pés e nos reabasteça. Precisamos de Jesus eucaristico, de Jesus nos irmãos.

Recapitulando em passagens...
1) "Ao declinar da tarde, pôs-se Jesus à mesa com os doze discípulos" Mt 26, 20
2) "Disse-lhe Pedro: Jamais me lavarás os pés!... Respondeu-lhe Jesus: Se eu não tos lavar, não terás parte comigo" Jo 13, 8
3) "Filhinhos meus, por quem de novo sinto dores de parto, até que Cristo seja formado em vós" Gl 4, 19

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