Por muitos anos eu tentei me convencer de que o natal era um dia feliz e
especial. Ainda assim, mesmo quando eu era pequena, com toda aquela comida
extremamente convidativa que a minha avó preparava e todos aqueles presentes
debaixo da árvore, tão numerosos e coloridos, bem lá no fundo, tudo o que eu
conseguia sentir era um grande vazio. Ele era constante em sua inconstância,
específico da data, como as luzes de decoração... liga, desliga, liga,
desliga... mas sempre lá. Ano após ano durante essa época, as pessoas que me
cercavam, de repente, ficavam envoltas pelo misterioso Espirito de Natal. Mas
não eu. Por quê?
Eu era cristã. Queria que Jesus nascesse na minha família e no meu
coração novamente. O ano estava no fim, era quase reveillon - vida nova, metas
novas, dias zerados. Eu tinha um bom repertório de filmes natalinos. (De
qualidade duvidosa? Talvez, mas ainda natalinos). Rudolf, a rena de nariz
vermelho. Os fantasmas de Scrooge, Meu papai não é noel. Mais recentemente, A
felicidade não se compra.
Então por quê?
Há alguns natais, em uma das brechas de luz do meu vazio existencial, eu
entendi que o único sentimento que talvez me fosse concedido que lembrasse o
Espirito de Natal fosse aquele alívio de fim de dia, quando eu agradecia a Deus
pela minha família, amigos e pela comida maravilhosa que eu teria por uma
semana inteira. É, só isso mesmo. Não precisava ter um porquê. Talvez eu
pudesse só acolher as sensações e odiar o natal.
Dia 23/12/2016, na mesa de jantar. Pai, mãe, eu. Uma briga de casal
algumas horas antes. Promessas que nunca seriam cumpridas da parte dela,
palavras mais pontudas que punhal da parte dele. Meu silêncio valendo minha
vida.
"Eu entendi sua dor durante ANOS!" dizia ela, ferida.
"Você não pode entender a minha por alguns meses?! Qual o seu problema em
passar o natal com a minha família?!"
Rosto vermelho, irritado.
"Eu odeio o natal" Tum-Tum. Liga, desliga. Tum-Tum.
"Quatro dias antes... ele morreu".
Uma lembrança antiga.
Pai, eu também odeio o natal.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------
Não esse ano.
Eu não quero mais sofrer as dores dos outros.
Eu posso estar lá - e vou.
Apenas isso.
Um mês de comunhão diária.
Eu finalmente sinto o Espírito Natalino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário