terça-feira, 24 de novembro de 2020

Desafio 5 - Alento


24/11, terça-feira
9h45 da manhã

Hoje é um dia bom. Eu não tenho muitos dias bons, então quando tenho, aproveito. Faço um café de verdade, tiro algum som do meu violão velho, gasto tempo correndo os olhos pelo movimento da minha rua.... escrevo. Faço essas coisas. Ainda que eu saiba que não existe amanhã - ou se existe, será apenas outro hoje. Eu sei que não sou um homem de negócios, um renomado cientista ou uma celebridade influente... sei que ninguém no mundo nota minha existência... mas eu ainda sou alguém. De vez em quando, mas sou. Já faz algum tempo parei de ter pena de mim mesmo, de me considerar fraco. Eu tenho uma vida que ninguém mais tem e ela é um dom. Apesar de alguns sentimentos terem me deixado em paz (raiva, frustração, medo, inveja,... reticências eternas), continuo sempre a me surpreender. A surpresa está no que vejo, no que escuto, no que toco, no que sinto, no que penso. Fico surpreso em perceber como o mundo consegue mudar drasticamente a cada vez que nos encontramos, e, ao mesmo tempo, permanecer enfadonha e enfaticamente igual. Gosto de pensar que temos um segredo, eu e ele, um segredo que eu não sei qual é, e ele vem me contar a cada vez que nos encontramos. É um segredo que todo mundo já sabe, menos eu. Por isso ninguém o tem, só eu. Quando era jovem, nunca pensei que uma xícara de café bem quente e doce, que eu mesmo preparei, com as minhas mãos, raciocínio e consciência me fariam tão bem. Talvez porque eu fosse um jovem que não pensasse muito no futuro. Acho que fugimos tanto dos planos que uma hora o futuro cansou e ele mesmo que fugiu de nós. 


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