segunda-feira, 29 de julho de 2019

Ressignificando minha metamorfose luminosa

Mas, como está escrito:As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,e não subiram ao coração do homem,são as que Deus preparou para os que o amam. 1 Coríntios 2:9

E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. Romanos 12:2

Acho que faz algum tempo que eu não escrevo um textinho livre, só porque quero escrever mesmo, então cá estou. Sinto falta, às vezes, de escrever por escrever. Achei um rascunho com algumas ideias do início do ano e fiquei refletindo em como hoje eu tenho me lançado a viver aquelas propostas, com uma verdade e intensidade que eu não acreditava ainda existir em mim. Eu vinha percebendo, desde o ano passado, mas em especial desde em janeiro desse ano, o quanto eu estava diferente do que era em essência, de uns cinco anos pra cá. O cronos definitivamente não é como o Kairós, já que pude perceber que durante cinco anos, por mais que aparentemente estivesse vivendo intensamente, eu estava parada em 2014, encapada em uma bolha impermeável que eu apelidei de Rute, sem deixar que nada entrasse ou saísse. Eu queria me libertar dela, mas tinha muito medo de me machucar - e não aguentar o baque. Então era firme na minha indiferença, no meu distanciamento, na minha inexistência. Mas, em janeiro, eu comecei a tomar consciência da minha situação precária e desejar não fugir dela mais. Eu entendi que minha falta de gratidão à Deus quanto ao que eu tinha me impedia de ser protagonista da minha história. Eu entendi que o medo de falhar e ser machucada novamente, apesar de me manter segura e estável, me impedia de experimentar os planos e promessas que Deus tinha para mim, porque para alcançá-los, eu precisava sair do meu lugar. E eu entendi que eu precisava ocupar meus espaços, não só por mim, mas também pelos outros. Para que exista relacionamento, é necessário que exista pelo menos duas pessoas envolvidas, que se mostrem e se abram uma à outra. E eu entendi que não estava me abrindo para o outro, não estava existindo para o outro, estava dando tudo o que Deus me confiava para as outras pessoas, de mão beijada. Deus deseja que eu ocupe um espaço. Não porque eu sou mais que alguém, ou porque só eu consigo cumprir determinada missão que ele me confia... não. Deus precisa que eu ocupe espaço para que eu possa existir em dignidade, sem me anular, e assim estabelecer um relacionamento com ele e com os outros. Lá em janeiro, eu entendi que eu precisava aprender a dialogar. Na verdade, eu comecei mesmo é a aceitar - porque entender, eu acho que já entendia há algum tempo. Aceitar que saber algo não era suficiente, se eu não conseguia compartilhar com o outro de maneira objetiva e simples, se eu não conseguia alcançar o outro. A sensibilidade é importantíssima, quem não tem não adianta saber dialogar. Saber dialogar é essencial também. De que adianta a sensibilidade se não sei colocar em palavras? Eu estou viva para me doar ao outro, o que me alimenta e ser instrumento de construção para o outro através da minha vida e minha verdade. No fundo, o diálogo sempre foi a minha maior dificuldade, porque eu menosprezava o poder das pequenas coisas. Falar é aprender, muito mais que ensinar, porque enquanto falamos, organizamos nosso pensamento - e isso é tão incrível porque com a ferramenta do diálogo, todos saem ganhando. Deus já me disse muito bem dito uma vez: quando algo remete à ele, todo mundo ganha. Hoje eu entendo muito mais profundamente essa verdade na minha vida: muito além de identificar situações da vontade dele, Deus me dá a graça de entender que a minha vida nele é vida no outro, porque somos um só coração, uma só voz, uma canção que sai dos lábios dele. É muito engraçado entender que eu procurei uma formação em psicologia, uma formação que depende integralmente do diálogo, uma profissão que me desafia a peitar minha maior dificuldade a cada dia. Hoje eu entendo o quanto essa decisão veio da minha essência, do quanto eu desejava me apropriar do diálogo para crescimento interno e no quanto, sim, a psicologia é minha, a pedagogia é minha, o protagonismo da minha vida é meu. Não posso entrar na cabeça de alguém e experimentar aquilo que a pessoa experimenta, como faço comigo. Finalmente entendo que cada pessoa é de um jeito, que todos somos diferentes uns dos outros. Mas posso perguntar o que a pessoa sente e pensa, validar as respostas dela mesmo que sejam diferentes das minhas e tentar compreender ela em essência, sem que eu deixe de existir, sem brigar, sem me irritar com o pensamento dela. Fazer esse movimento com abertura de coração e disponibilidade é ser empático, um conceito tão difícil de ser entendido, que por muito tempo eu pensei estar tão longe, mas tão importante de se debruçar sobre. Lá em janeiro, com "Não construa muros em seu coração, coloque as asas contra o vento", de No Pares, ou "Lá fora chove amor e abro o guarda-chuva porque meu coração não sabe conversar, meu coração tem medo de molhar; acho que tenho tido chances que não soube agarrar, me escondi atrás do forte que criei com medo de tentar... são muros que vão me proteger, são muros que me impedem de viver" ou a presença da metáfora dos muros em Greys Anatomy e em Turma da Mônica Jovem, como Jerê, eu entendi que para ocupar espaço eu não posso mais construir muros no meu coração, para ocupar meu espaço eu preciso deixar a chuva me molhar sem abrir o guarda-chuva, para ocupar o meu espaço eu preciso me permitir ser eu. Eu tenho aprendido a abraçar a honestidade, deixar claro o que eu quero, porque assim a chance de existir arrependimentos, muitos "e se", diminui drasticamente. Eu tenho aprendido a deixar Jesus sentar na minha cadeira, a deixar as coisas fluírem. Em janeiro, enquanto eu caminhava, Deus permitiu que a chuva me molhasse, me colocou, literalmente no meio da tempestade. E eu caminhei na chuva mesmo, na certeza que eu não precisava mais fugir dela. Uma vez um amigo me disse que se relacionar é ser sábio - a vulnerabilidade acontece a conta gotas, em pequenos atos, quando o outro vai se tornando casa segura para se expor. Se relacionar é um processo lento e prazeroso, como um apaixonante filme francês. 
Fui líder mais uma vez no acampamento juvenil esse ano e foi uma liderança surpreendentemente maravilhosa. Em um ano como esse, 2019, o ano propício para mudanças e afetividade, eu vivi uma nova perspectiva de liderança. Com um convite que chegou em um momento de profunda dor, um convite que revirou meus planos de viagem e que me colocou de novo o chão para pisar. Eu voltei a me relacionar, no sentido verdadeiro. Eu voltei a me entregar, eu voltei a viver sem a Rute, voltei a me lançar e estar sujeita as consequências dessa decisão. E Deus foi me mostrando qual era o servir que ele queria da Ana Beatriz, qual era o perfil de líder da Ana Beatriz e o que era, de fato, ocupar o espaço que era dela, e de mais ninguém. Eu sou paciente, bondosa e simples. Eu sou sensível, sei acolher e me expor o suficiente. Deus trabalhou minha identidade de filha e de serva. Fui Triz. E entendi que não sou apenas Triz, mas sou Ana, Bia, Ab e Triz. Ana, minha parte ingênua e sensível, bastante magoável mas muito bondosa, idealista, sonhadora, minha criança interior; Bia, minha parte mais fria e ambiciosa, bastante estratégica, manipuladora, pessimista, desconfiada e braba; Ab, minha parte mais impulsiva, desejosa por aceitação, mas também engraçada, leve. E, por fim, mas não menos importante, a Triz, minha parte confiante, interessada, realista, persistente, batalhadora, honesta.
No primeiro encontro de uma nova proposta do JS, o casa em chamas, Deus me deu uma visualização. Borboletas voando de um livro e, posteriormente, borboletas em um jardim. Havia uma borboleta em particular, uma borboleta azul. Deus me deu o discernimento que as borboletas que eu via era a geração apaixonada que estabelecia um relacionamento de amor com ele, e que se deixava mergulhar profundamente nesse relacionamento. O livro era a bíblia, Deus encarnado na palavra, e o jardim era o mundo, por onde as borboletas passavam de encantavam com sua beleza. E então ele me disse que a borboleta azul era eu, que ele me dava asas para finalmente sair do meu casulo e ocupar o lugar que eu precisava ocupar - ser beleza no jardim e voar, cada vez mais alto. Minha tribo foi a tribo azul, e eu vi borboletas voando durante o acampamento todo. É um novo início para mim, uma nova metamorfose luminosa.  

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