quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

PP#4 Amar(rar)

(Propício escrever sobre esse capítulo, no tempo em que estou vivendo. Muito propício. Finalmente tenho aprendido de verdade a permanecer. Tenho aprendido o verdadeiro significado de compromisso)

Temos agora o trecho em que o Pequeno Príncipe contempla a caixa contendo o carneiro. Ah, como eu gosto desse momento! É muito especial contemplar algo que se ama... porque, por um instante, a terra para de girar, e como se nada mais existisse além da figura contemplada. O todo que ela compõe, a oportunidade de você, logo você, estar ali e poder contemplá-la... dentre tantas outras pessoas no mundo inteiro... O piloto diz parecer assistir o principezinho contemplar um tesouro... de fato contemplar algo que se ama é um tesouro! E aquela caixa com um carneiro dentro talvez não fosse um tesouro para outra pessoa... isso a tornava ainda mais preciosa... era um tesouro que apenas o Pequeno Príncipe parecia conseguir enxergar... um tesouro no seu mundo! 
A caixa do seu carneiro, pensou o Princepezinho, podia ser sua casa, lá no seu planeta. Então o piloto sugeriu que levasse também uma corda, para amarrá-lo e não deixá-lo fugir. O Princepezinho se espantou com a ideia. 
"Que ideia esquisita!" disse. Todas as vezes que li esse trecho, me espantei assim como o Princepezinho. Também achei a ideia esquisita. Ainda assim, por muito tempo, sem ao menos perceber, meus pensamentos e atitudes se assemelharam aos do piloto. 
"Se tu não amarras, ele vai-se embora e se perde" argumentou, ele, do outro lado. Queria poder contar para ele o que descobri no ano de 2014: se um carneiro quer ir embora, ele irá, quer haja corda ou não. É ilusão pensar o contrário. É ilusão pensar que o controle faça o carneiro permanecer. Também é ilusão pensar que um carneiro amarrado pode ser feliz. No momento que há controle por uma das partes, não há espaço para que a outra parte exista como deve existir. Aprendi, sem quase sair viva, que entrega deve substituir o controle. 
"Mas onde queres que ele vá?". Embora, oras! Não era óbvio? 
"Não sei, por ai, andando sempre em frente". 
Mas por ai onde? Em frente, oras! Não era o que importava de fato, o que mais importava era o medo de que o carneiro saísse andando.  
A resposta do Pequeno Príncipe tem me quebrado desde então: 
"Não faz mal, é tão pequeno onde moro!" 
Estamos falando de amor? Estamos. E amarrar um carneiro não tem nada a ver com amar. O amor é livre, deixa correr, deixa voar. O amor dá tudo que tem. E, por ser livre, passa por um processo de decisão... Amarrar ou prender é monopolizar uma decisão.. dominar.. escravizar. O amor acontece quando não existem cordas envolvidas e, mesmo assim, permanecem ali os carneiros. Quando o Pequeno Príncipe diz ser pequeno onde ele mora, ele diz que sua intimidade e simplicidade são suficientes para manter um carneiro solto junto dele. Ele sabe quem ele é! Que Princepezinho maravilhoso!

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