Foi difícil para o piloto entender de onde viera o Pequeno Príncipe. Tem coisas que são mesmo difíceis de entender, porque querem sair de dentro de nós, mas não conseguimos deixar. Por isso, o piloto se sentia irritado. A irritação crescia a cada pergunta ignorada pelo Pequeno Príncipe, que lhe fazia outras perguntas.
"Que coisa é aquela?" apontava o avião. O Pequeno Príncipe via o avião pela primeira vez.
"Não é uma coisa, aquilo voa, é um avião", respondeu quase que imediatamente, defendendo sua casa. O Piloto se orgulhava muito da maneira com que o avião lhe fazia voar. O fato de que estivesse então quebrado no deserto não parecia ser o foco daquela conversa. Era a primeira vez que se perguntava que coisa era aquela. Normalmente, apenas gastava tempo voando, sem realizar manutenção alguma.
"Tu caíste do céu?". O Pequeno Príncipe era incisivo em sua simplicidade, suas perguntas ressoavam. O piloto estava acordado, mas ainda parecia sonolento. Sabia que tinha caído, mas ainda não havia pensado sobre a queda. Não conseguia ao menos desenhar seu avião, pois era complicado demais. O piloto estava em seu piloto automático. Talvez fosse como ícaro que teve as asas de cera derretidas pelo sol. Quanto mais alto voava e mais longe do chão ficava, mais desejava subir, sem olhar para baixo. Subir a que preço? O que deixava para trás, e ficava pequeno lá de cima? Olhava para qual direção? O que queria alcançar? O céu é lindo e sedutor, mas o sol é quente.
O Principezinho também voava, pois vinha de outro planeta.
"Não pode ter vindo de longe", concluiu o piloto. Era uma conclusão importante. Antes, o Pequeno Príncipe aparecia como uma criança distante, que surpreendentemente surgira no deserto. Nesse comentário, o piloto já podia compreender melhor que ele que não tinha vindo de tão longe assim.
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