(Eu escrevi esse texto há um tempo já, mas tinha ficado com muita vergonha de postar. É um texto denso, apesar de eu não ter achado isso quando o escrevi. É meio bagunçado e agora já compreendo melhor tudinho, mas acho que vale a pena ele compor o blog. Acho que ele tem mais ou menos um mês).
Era uma vez algumas situações do meu cotidiano que se entrelaçaram de um jeito quase mágico que provavelmente diz muito mais coisas de mim do que eu gostaria (e eu não vou começar esse texto justificando a minha maré de produtividade ultimamente, já que eu sei muito bem de onde ela vem - e, a propósito, esse é um texto honesto e sem muitos rodeios).
Era uma vez algumas situações do meu cotidiano que se entrelaçaram de um jeito quase mágico que provavelmente diz muito mais coisas de mim do que eu gostaria (e eu não vou começar esse texto justificando a minha maré de produtividade ultimamente, já que eu sei muito bem de onde ela vem - e, a propósito, esse é um texto honesto e sem muitos rodeios).
"Qual sua estação preferida?" ele perguntou.
"Primavera" respondi.
"Menina esperançosa" disse.
"Nem sou." murmurei, quase que instintivamente.
"Eu só gosto de flores" E, pela primeira vez, era só sobre flores mesmo.
Tudo começou com o João Miguel. Somos melhores amigos há algum tempo, mas eu demorei um pouco para "rotular". Isso, porque é só eu rotular que eu piro e destruo tudo, pedacinho por pedacinho. Rotular trás uma pressão insuportável de que eu preciso ser perfeita em cumprir um papel. É como se esperassem algo de mim (eu sei lá quem espera algo de mim). Eu acho que ainda não tinha me dado conta, de fato, do valor que a amizade dele tinha pra mim. As vezes, bem no fundinho da minha mente, eu prestava atenção no rótulo e sumia, mas tudo bem, eu voltava. Mas dessa vez eu sumi por muito tempo. E ele também. As coisas na faculdade estavam pesadas para nós dois, e a nova namorada dele estava exigindo coisas novas dele - era um tempo de descoberta. Eu também estava lidando com meus próprios problemas de afetividade, aliás, e eu nem precisei de um namorado pra isso. Mas então eu percebi um movimento na minha mente muito constante: "eu preciso chamar o João Miguel pra conversar". Eu não sabia sobre o que eu queria falar, mas eu queria muito falar com ele. Eu sentia falta da presença dele, porra. Só que, um dia, rezando o terço, eu percebi que eu estava naquele costumeiro estado de inércia (8/80, tudo ou nada, pelo amor de deus Ana Beatriz): eu simplesmente não conseguia pegar o celular e mandar uma mensagem. E aquilo me angustiava para um caralho.
Acontece que somos conectados pela energia do cosmos, uhum. Então, nesse dia, minutos depois da angustia suprema, João Miguel apareceu com um daqueles vídeos retardados dele. Então eu pude descarregar tudinho em palavras. Todo o meu alívio por ele estar ali. E foi reconfortante. Sobre esse papo todo, como já sabemos, há em mim um profundo desejo que o outro me veja, mas também uma angústia de estar vulnerável para o outro no que diz respeito às minhas fraquezas. O pulo do gato, dessa vez, foi que eu entendi uma das razões para o meu mecanismo de fuga: quando eu acho que alguém já viu meu lado bom, eu não quero mais me relacionar com a pessoa, pra não "estragar" o que temos. É como se qualquer coisa que eu fizesse pudesse quebrar aquele relacionamento de cristal e fazer com que eu realmente descobrisse que não sou digna daquela amizade.
MAS AÍ, SABE O QUE ACONTECEU? Um negócio chamado estágio. Daqueles obrigatórios, da pedagogia. Estou fazendo o de docência, no fundamental I e, desde o dia que eu entrei no terceiro ano C, eu soube que aquela turma me traria uma experiencia profunda e foda. Eu não sabia que seria uma experiência extremamente afetiva, entretanto. Acabou que eu fui cultivando um carinho e amor imenso por cada criança, em especial o Sr Vinícius, futuro baterista gospel de sucesso internacional. Elas eram doces e inteligentes, muito carentes e criativas... dava vontade de cuidar de todas. Mas, numa das ultimas tardes que passamos juntos, eles estavam terríveis. Eu queria matar todos, especialmente o Vinícius. Ele estava reclamão e desobediente, além de muito ciumento. Tudo o que eu falava era motivo de implicância: eu fiquei realmente com raiva. Mas, no final da tarde, quando eu estava de saída, as crianças todas me deram beijos e abraços de tchau e o quentinho no meu coração continuou existindo. E então, de maneira extremamente suave, como de fato Ele é, Jesus sussurrou no meu coração: não importa o quanto eles te mostraram lados ruins deles hoje, pois, no final do dia, você ainda os ama. Eu também amo você no final do dia, assim como os seus também amam você.
Um tiro né meus amores?!
Continuando a saga...
Uns dias depois, porém, eu descobri ainda mais uma coisa sobre essas questões de amor e medo. O medo do amor é duplo. Sim, de fato, eu tenho medo de estragar tudo com meus defeitos gigantescos. Mas, olha só! também tenho medo de não estragar tudo. E se, de repente, eu for suficiente? E se, de repente, alguém estiver tudo bem com o que eu sou? E se, de repente alguém gostar de mim também?! Sabe, da Ana Beatriz de verdade, não da personagem. O QUE CARALHOS EU FAÇO COM ISSO?!
Eu não sei responder essas perguntas sem um atalho chamado "não rotule ou pense a respeito". É engraçado como todas essas minhas questões desaparecem quando eu simplesmente deixo de olhar para elas - e isso funciona mesmo! Mas cara, me incomoda elas ainda estarem lá. Me incomoda profundamente.
Tá.
Esses dias, eu tive uma daquelas crises de "branco", na aula do violão. Eu estava lá, frente a frente com uma partitura tranquila e eu simplesmente não conseguia nem ler nem executar nada. Era como se as notinhas dançassem na minha cara subindo e descendo as linhas e os espaços da pauta. Elas estavam claramente me zoando. Aquela merda de sensação de invasão. Eu estava muito feliz de não ter sentido nada parecido com o meu novo professor, ainda, o que era um milagre, mas, de repente, lá estava ela me cumprimentando descaradamente. E aí, quando eu fui tocar em casa e resolvi todo o drama em menos de 20 minutos, eu fiquei realmente irritada comigo mesma. POR QUE CARALHOS EU NÃO CONSEGUI FAZER ISSO NA AULA? Então eu me lembrei do famoso causo da pressão no ensino médio: "oh alunos dedicados, confiem nos seus professores! Não dá tempo de fazer tudo, não dá mesmo, eles selecionaram exercícios necessários". Obviamente que eu quis fazer tudo sozinha. 20 exercícios diários, de 6 matérias diferentes = 120 exercícios no total. Consegui? É claro que não, eu não sou um robô - e física me roubava mais tempo do que deveria. No meio do ano, lá estava Ana Beatriz 2 apostilas atrasada. Orgulhosinhaaaaaa. Mas, naquele dia, quando eu decorei Natália em menos de 20 minutos, eu me obriguei a entender qual era o meu problema. O que eu descobri, depois de muito rabiscar no meu diário? Tenho medo de não dar resultados, porque me sinto cobrada a dar resultados e conheço meus hiatos de comunicação. Eu fico realmente apavorada com a ideia de não ser suficiente, apavoradíssima. Então eu ativo o meu estado de alerta, risos. E o meu estado de alerta normalmente funciona muito bem, o que faz com que eu seja muito reforçada por ele. Mas ele faz com que eu sempre faça tudo do meu jeito, e sozinha. E me sinta extremamente pressionada por qualquer estímulo externo - ou eu me concentro em mim ou no outro. É claro que eu escolho confiar em mim. Isso resulta em: não confio nos meus professores. Na real, não consigo nem dar a chance pra eles me explicarem, por um fodido medo de errar. E sabe o que é uma merda? Não é só sobre professores. Eu não confio nas pessoas ao meu redor, pessoas que tem um caminho muito mais fácil pra me oferecer se eu simplesmente PARASSE DE MORAR NA MINHA PRÓPRIA BOLHA DE MEDO (você não sabe o quanto eu te odeio, Rute!). Nah. Ainda tem que confiar me desestrutura porque eu me sinto passiva: é me dar para o outro, dar minhas decisões nas mãos do outro. Não é tanto sobre se vai dar certo ou não... mas sobre entrega. Como é difícil me entregar para o outro sem saber pra que lado ele vai seguir. É como naquela vez, na festa junina, com o Beg: enquanto eu não deixei ele me conduzir, não dançamos direito. Os relacionamentos (e, a educação é sobre relacionamentos) são como uma dança: é preciso confiança para se entregar para o outro, sabendo que o outro cuidará e será responsável por aquilo que ele precisa cuidar e ser responsável, ao tempo que também é necessário cuidar e ser responsável pelo outro. Se eu cuido do que é do outro com responsabilidade e assumo meu papel e o outro faz o mesmo, todos são cuidados. Acho que finalmente consegui conceituar para mim mesma o que significa me relacionar.
Esse processo desencadeia, na maior parte das vezes, pensamentos automáticos horríveis que são altamente disfuncionais e distorcidos, que são sempre verbalizados. Comentários que me desmerecem e justificativas precisam ser abolidos, porque não constroem. Mas eu sei que, no fundo, são só consequências da raiz.
Por fim, ontem foi uma noite legal. O Fernando era mesmo muito divertido e eu fiquei feliz em finalmente conhecê-lo. Conversar com ele me fez refletir sobre como existem pessoas muito legais lá fora, e que eu nem imagino o quanto elas podem ser legais. Eu fiquei tagarelando perto dele sem parar a noite toda e inclusive enquanto ele me levava pra casa. Ele não se importou nadinha. Ele me fez pensar que, talvez, a minha rigidez pudesse ser quebrada por novas experiências. Experiências que me fizessem escolher, de fato, o que eu queria, mesmo que eu acabasse exatamente onde eu comecei, como numa espiral dialética. A diferença era que eu ia estar lá de verdade, e nada precisava ser tão pré-determinado ou pré-estabelecido como parecia para mim. Rotular, no fundo, não significava nada. Já havia um compromisso entre o João Miguel e eu, antes de rotular. Rotular não implicou em mudança alguma e nada precisava mudar... rotular ajuda a expressar claramente o que já estava expresso antes.
Não preciso ter medo.
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