quarta-feira, 8 de junho de 2016

A pedra filosofal: uma epifania sobre o conhecimento

Esses dias atrás participei de um evento chamado VII Semana de Estudos Críticos de Educação, que aconteceu no campus da Unesp que eu estudo, aqui em São José do Rio Preto, promovido pelos docentes da pedagogia. Foi uma semana muito enriquecedora pautada em palestras, seminários e apresentações de trabalhos, que aprofundou temas importantes dentro da área da educação, como seus teóricos, métodos e assuntos atuais, extremamente interessantes e pertinentes. Sem dúvida alguma, foi uma experiência que contribuiu muito para a minha formação profissional e construção de pensamento crítico pessoal e humano. O que mais me chamou atenção, no entanto, foi pensar a respeito do modo como o meio acadêmico é estruturado, suas peculiaridades, contrapontos e paradoxos. Durante as palestras, eu fiquei mais interessada na forma como eram passadas as informações do que, de fato, nos conteúdos das mesmas. Constatei que, vira e mexe, mesmo que de forma indireta, era ressaltada a importância do diálogo e da comunicação através da discussão dos assuntos, que de fato, na minha humilde opinião de senso comum, é o cerne da educação. Contudo, percebi também que essa essência da discussão perdia um pouco do seu sentido quando havia uma falta de sensibilidade ao contexto da apresentação e ao público dirigido (que éramos nós, meros mortais do primeiro ano), apesar de palestrantes incrivelmente capacitados intelectualmente. Eu, com um pouco mais de experiência acadêmica por já ter cursado um ano de psicologia e por estar constantemente lendo artigos científicos e livros a parte do material didático oferecido, por muitas vezes tive dificuldades com a linguagem das palestras. E provavelmente, tinha mais pré-requisitos que parte dos demais discentes sentados ali naquele auditório. Diversas vezes desejei abandonar algumas palestras, mas assim mesmo, me mantive firme, porque enfim tenho tido mais sucesso no que diz respeito a disciplina, trabalhada pela necessidade de me adaptar ao sistema - ou isso, ou ser levada pela maré. Porém, quantos alunos não abandonaram? Quantos não voltaram a atenção para as redes sociais? Quero deixar claro que eu não falo em interesse. Falo em acesso.
Algumas pessoas argumentam que a democratização da universidade pública torna mais superficial o conteúdo das discussões promovidas e das aulas ministradas pelos profissionais da educação. Entretanto, vejo que talvez a invalidez de tal argumento se deva mais a uma barreira construída pela falha da rede de comunicação do que de fato a falta de conteúdo dos discentes, que estão dispostos a ouvir e pensar a respeito das propostas que lhe oferecem (se não, por que estariam em uma palestra que de nada vale para a retirada de um diploma? e até mesmo quando valha) e que possuem muita experiência prática de vida, tão importante quanto a teórica . Ao meu ver, aquela falta de sensibilidade a que me referi anteriormente se deu na VII Semana de Estudos Críticos de Educação através de duas vias: por vezes, através da via inconsciente, como uma real dificuldade de alguns palestrantes em ministrar temas tão complexos para um público iniciante e "cru" na área (dificuldade que eu mesma possuo dentro da minha liderança no Ministério Ruah e procuro sempre me questionar a respeito no sentido de saná-la) e, por vezes, infelizmente, através da via consciente, no sentido de monopolizar o conhecimento e impressionar os estudantes ingressantes a favor de construir e edificar um ego docente de cargo. Esta segunda via me preocupa um pouco. Boa parte do tempo das palestras eu fiquei me perguntando o quanto a forma da transmissão do conhecimento talvez fosse tão importante quanto o próprio conhecimento em si, pois uma pessoa que não atinge outra ao compartilhar o seu conhecimento e expor suas ideias não cresce, não amadurece e não se desenvolve. O próprio mecanismo da discussão é importante porque olha para o outro e instiga o pensamento crítico que conversa com a realidade do indivíduo. Ao se colocar, questionar, entender o outro, o estudante pensa, sente, cria empatia, desenvolve soluções aos problemas - estes que provem das necessidades!. A própria linguagem é a produção do conhecimento e organização de ideias, indo além da função única da comunicação. O conhecimento se dá, portanto, quando as partes se fazem entender e se constroem. Professor seria aquele que media a transmissão e construção do conhecimento, certo?
Tantas ideias borbulhando na minha cabeça me trouxeram a mente uma das proezas de Alvo Dumbledore, cria da mestra J.K. Rowling, diretamente dos momentos finais de Harry Potter e a pedra filosofal.

"Professor?" chamou Harry "Como foi que eu tirei a pedra do espelho?" 
"Ah, fico satisfeito que você tenha me perguntado. Foi uma das minhas ideias mais brilhantes, e cá entre nós, isto é alguma coisa. Sabe, só uma pessoa que quisesse encontrar a pedra, encontrar sem usá-la, poderia obtê-la; de outra forma, a pessoa só iria se ver [no espelho de Ojesed] produzindo ouro e bebendo elixir da vida" (pág 256)

Com essa citação, pude criar uma interessante analogia a respeito do conhecimento. Só uma pessoa que deseja puramente conhecer e compartilhar o quão incrível é a vida humana e seus trejeitos pelo conhecimento que poderá ser identificada como verdadeiro docente. A pessoa que se vangloria e se esconde atrás dos postulados e teorias, acaba por se visualizar como mestre poderoso e melhor que o outro e ter o corpo todo queimado pelo próprio ego.
Obviamente, pude participar de palestras espetaculares neste sentido, extremamente aconchegantes e que contemplavam a questão do simples ser complexo e do menos ser mais. Fico feliz em não ser a única a pensar a respeito, já que assisti sim a palestrantes extremamente intimistas e cativantes, que me instigaram a olhar para os assuntos abordados e pensar a respeito com mais profundidade, ficar mais sedenta de aprender para ensinar. Ainda fui contemplada por minha professora de Filosofia, muito sábia, que se colocou no mesmo sentido das minhas reflexões, durante um questionamento rebuscado de um professor (que reformulado por ela pareceu a coisa mais simplista do universo). "Eu gostaria de pedir, por gentileza, que os senhores explicassem de novo a respeito do que acabou de ser discutido, mas de forma mais próxima do público" disse ela, após esclarecer alguns conceitos que ambos haviam utilizado.
Espero que eu tenha a graça e humildade de retirar a pedra filosofal do conhecimento do espelho do mundo para utilizá-la apenas para fins nobres, fins para o outro - Harry, para salvar a pedra, eu, para a construção do conhecimento -, assim como Harry o fez, quando estiver exercendo minha futura profissão.

Um beijão no coração, 
~Ab

3 comentários:

  1. AB, genial essa analogia da pedra filosofal com o conhecimento! Eu não lembrava dessa passagem do espelho de Ojesed pra conseguir a pedra. Me fez pensar também.
    Gostei da atitude da sua professora de filosofia, muito corajoso e nobre da parte dela! Por mais que a gente se depare com profissionais um tanto quanto "despreparados" ao longo do caminho, ou que tenham visões muito diferentes, sempre vamos encontrar pessoas inspiradoras.

    ResponderExcluir
  2. Harry Potter sempre me faz sair da caixinha do mundo de Ab. Com certeza as pessoas inspiradoras estão espalhadas por ai esperando para serem encontradas! <3

    ResponderExcluir
  3. Harry Potter sempre me faz sair da caixinha do mundo de Ab. Com certeza as pessoas inspiradoras estão espalhadas por ai esperando para serem encontradas! <3

    ResponderExcluir