domingo, 29 de novembro de 2015

Resoluções antecipadas de ano novo: sobre a perfeição e o amor

É difícil admitir essas coisas publicamente, mesmo que ninguém vá ler
(não exclua depois de postar, Ab)

Nunca fui boa com pedidos de desculpas, ou em perdoar. Sou orgulhosa e não me orgulho disso. Estou sempre evitando admitir que estou errada, tanto para mim mesma quanto para os outros - mesmo que todo mundo saiba. Sou teimosa e mimada, desisto fácil. Insisto nos meus erros por medo de falhar. Falhar me envergonha. E eu falho por não tentar. Não ser correspondida me frustra, então prefiro evitar a intimidade. Nunca ousei confiar verdadeiramente nas pessoas ao meu redor porque tenho medo que elas me deixem. Também sou ruim em me permitir receber qualquer coisa sem dar algo de valor em troca. Me sinto vulnerável.
Sempre desejei profundamente ser amada. Nunca me senti digna o suficiente para. Houve uma época em que eu fui quem eu pensei que desejavam que eu fosse, me enquadrei no padrão. Minha meta era ser perfeita. Foi uma época infeliz. Achei que se eu fosse boa o suficiente em muitas coisas ou tivesse histórias legais para contar, as pessoas gostariam de mim. Fazia muitas atividades e elas tomavam grande parte do meu tempo. Conheci muita gente, mas quase ninguém me conheceu.
Conforme eu crescia, cada vez mais me sentia sozinha. Sentia que aos poucos, a pessoa que eu tinha me tornado, não era a pessoa que eu gostaria de ser. Minha solidão era muito grande: minha lista de medos banais aumentavam a cada dia, porque era covarde demais para encarar os verdadeiros.
Meu luto da transição da infância para a adolescência foi árduo. Meu corpo ia mudando de jeitos esquisitos - de repente, eu tinha uma hemorragia, uma vez por mês, que todo mundo achava absolutamente normal. Junto dele mudavam também meus pensamentos, sentimentos e percepções de mundo infantis. Me lembro do insight que tive a respeito dessa transição, no carro, indo para o colégio. "Tudo o que eu tenho são as minhas memórias, se elas partissem, eu partiria em dois" (https://www.youtube.com/watch?v=T2Ps9CwvqjM) . Era o que aquela música falava. Era forte! Tão forte! Lembro de ter verbalizado qualquer coisa para a minha mãe e pensar, exatamente enquanto eu verbalizava, que nenhuma palavra no mundo poderia explicar com precisão o que eu de fato queria dizer.
Ah! esse meu problema com as palavras! Nunca fui muito boa em verbalizá-las. Por muito tempo, esperei encontrar alguém que enxergasse através do que eu não dizia. Eu esperava que, de alguma forma, alguém fosse capaz de sentir aquela minha angustia, aquela minha solidão e também enxergar as pequenas coisas que enxergava. Eu projetava perfeições nas pessoas. O que demorei a admitir é essas projeções malucas limitavam meus pensamentos. Não era saudável, não era real. Quanto mais longe ia na minha insana teoria da pessoa perfeita, mais me enfiava na minha bolha do medo que me levavam para longe das pessoas humanas que realmente me amavam, do jeito que eu era, porque SIM!
Passar um ano estudando os mecanismos da mente humana, me fez enxergar coisas que nunca faria sozinha - coisas que, segundo Freud, eu tinha jogado pro meu inconsciente. Aprendi a estimular meus insights de lucidez, hoje cada vez mais frequentes. E profundos. E complexos. E.. dolorosos, perfuradores, complicados. Ser estudante de psicologia se mostrou uma autoterapia constante, um esburacado e libertador caminho de autoconhecimento.
Enquanto escrevo esse texto, eu choro. Mas choro verdadeiramente, um choro profundo e carregado. Em algum momento das minhas descobertas acabei esquecendo algumas coisas realmente importantes. Constatei que todo ser humano erra e, mesmo eu fingindo que não, meus erros estavam bem ali na minha frente, dando tapas na minha cara. Choro porque tudo poderia ter sido mais fácil para mim se eu houvesse me permitido enxergar e mudar, desde o princípio - o que não significa que ainda não possa, se parar de fugir MALDITO RECALQUE. 
Por outro lado, após alguns episódios de psi e gossip girl, crises existenciais cheias de altos e baixos e conversas de varanda com amigos por whatsapp, notei o quão produtivo e cheio de detalhes positivos também havia sido meu ano. Fiz novos amigos, tive tempo de conhecer o meu bairro, pude liderar um grupo de música, vivenciar outras realidades - tanto no cursinho quanto na faculdade - e aprendi a dirigir!
Conclusão: minha profunda (e clichê) descoberta se deu quando percebi que meus momentos mais esquisitos e reveladores, além de me deprimirem e me quebrarem em pedaços, tinham me feito crescer como nunca. Pude perceber que todas as minhas tristezas, traumas, mágoas e vivências, tiveram o mesmo peso dos momentos bons, justamente por deixarem suas marcas... ambos, foram, são e serão sempre os grandes responsáveis por me fazerem quem eu sou! (tentei achar aquela cena de divertidamente em que a tristeza e alegria formam uma memória de base importante juntas, que retrata exatamente o que eu quero dizer, mas não consegui encontrar no youtube, pfffff). 
Decidi aceitar os fatos: ser humano é constantemente se construir e desconstruir.
Como um excelente ano de contemplações e questionamentos, 2015 conversou comigo através de situações simplistas e complexas. Para 2016, desejo percebê-las melhor. Quero me livrar de todo o egoísmo, toda mágoa, todo a falta de confiança e falta de perdão que 2015 me mostrou que persistem em estar ali, meio que há mais de uma década. Desejo cultivar a humildade, a paciência, a compaixão, a misericórdia.
Antigamente, não imaginaria que eu pudesse ser algo para o outro. Tinha um conceito medíocre de perfeição. Mas, recentemente, alguém me disse que não há nada de errado em querer ser perfeito. Porque ser perfeito não é ser isento de falhas, mas ser inteiro em nossas limitações. E mais que ser inteiro, ser perfeito é ser inteiro para si e para o outro.

Deixo abaixo, minha passagem bíblica favorita. Em seguida, o trabalho maravilhoso que Renato Russo fez em cima dela. Por fim, a passagem que tocou meu coração nessa madrugada.

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor". 
1Cor13

https://www.youtube.com/watch?v=NQ-K8QSStOo

"No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor". 1 Jo 4, 18

Portanto amar é um ato de coragem. 

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